domingo, 1 de fevereiro de 2009

As minhas companheiras

Desde a minha chegada na casa dos pais, eu só tinha uma alternativa. Progredir na minha recuperação após sair do hospital. O médico informou que essa reabilitação seria lenta e exigiria bastante dedicação. Se não tive o apoio de alguns e consegui a solidariedade de outros, elas se destacam em meio a uma fase tão difícil porque viraram as minhas companheiras inseparáveis. Convivem comigo desde a hora de acordar e até quando vou dormir.

Duas delas me acompanhavam tanto, que ficavam sempre embaixo dos meus braços devido a tamanha intimidade adquirida por causa desse convívio tão próximo. São belas garotas ou enfermeiras bonitas? Nada disso. Namoradas? Passou ainda mais longe porque nem sei mais o que é isso. A resposta certa é um par de muletas, do modelo axilar conforme a linguagem médica, emprestada por uma amiga da minha mãe.




No início, eu utilizava as duas para me locomover, afinal nem conseguia colocar o pé esquerdo no chão. E nem podia fazer isso porque estava na etapa de consolidação da fratura na região da bacia (acetábulo no idioma da anatomia humana). Tive um aprendizado para utilizá-las. Foi difícil, mas me acostumei. Como o meu pé esquerdo inchava quando me levantava da cama.

Com o início da fisioterapia, comecei a fazer os exercícios passados por esses profissionais. Aos poucos recuperei parte dos movimentos perdidos. Com muito treinamento, consegui abandonar uma das muletas. Para uma não ficar com ciúme da outra, eu revezo o uso delas, sempre do lado direito para descarregar o peso do corpo na perna esquerda.

Com os avanços na recuperação, o jeito foi fazer uma nova troca. Como consegui reaver parte da força da perna, a muleta começou a ficar muito fácil para andar. O fisioterapeuta até aconselhou a substituir o modelo axilar pela canadense (aquela que se apoia no punho), para progredir ainda mais na reabilitação. Mas tomei uma decisão bastante importante. Resolvi pular um estágio e tentar uma nova companheira, que poderia carregá-la com mais facilidade porque uma mão já bastava.

Assim, passei a treinar o uso de uma bengala, desta vez emprestada pela tia Nice. A utilização desse material é muito mais difícil em relação à muleta, tanto a axilar quanto a canadense, porque obriga a pessoa distribuir ainda mais o peso do corpo. Com muito esforço, comecei a fazer isso como um teste em casa. Aos poucos, eu me acostumei.

Hoje, eu só uso essa bengala que tem história. A mesma foi presente a minha tia da família de um senhor que morava no mesmo prédio dela e a utilizava para andar após um derrame. Esse vizinho se tornou muito amigo dela, do meu tio e da minha prima. Desta forma, a família dele deu essa bengala como lembrança, após sua morte.




Olha só a minha responsabilidade de mantê-la conservada. Além disso, fica muito mais chique na hora de andar na rua ou para visitar alguns lugares públicos, como o shopping center, ou supermercados. Agora, minha meta é poder abandoná-la o mais rápido possível. Quando conseguir isso, é porque consegui a minha recuperação total.

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