Ao ver a coluna Contracapa escrita pelo meu amigo Márcio Siqueira na edição de hoje do Mogi News, vi as fotos feitas em 1998, quando o então governador Mário Covas veio de trem espanhol à região. Era a primeira vez que as composições entravam no Alto Tietê. A imagem me levou novamente a uma viagem ao tempo porque havia participado desse evento, quando ainda dava meus primeiros passos como repórter.
Na região, a maratona desses trens começaria na estação Ferraz de Vasconcelos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Desta forma, lá estava esse aprendiz de jornalista. Naquela ocasião, representava justamente o concorrente do Mogi News, o Diário de Mogi. Cinco anos mais tarde, me tornaria um dos editores do primeiro matutino, ao lado de Márcio Siqueira. Espero ter feito um bom trabalho nas duas publicações.
De volta à estação, eu presenciei um comentário de alguns vereadores e seus agregados. "Talvez seja a primeira e a última vez que o governador andará de trem", falavam os convidados enquanto esperavam a chegada dos vagões na plataforma.
Quando entrei nessa composição, Covas e o então secretário de Transportes Metropolitanos do Estado, Cláudio de Senna Frederico, estavam devidamente acomodados nos bancos. Os dois vieram desde a estação Brás (antiga Roosevelt). No interior do vagão, um detalhe passou a chamar a atenção.
Frederico veio vestido bem a caráter para o grandioso evento, que era a menina dos olhos no transporte ferroviário do governo estadual. O fato chamou a atenção das autoridades, como os prefeitos da época, Estevam Galvão de Oliveira (PFL-Suzano), Carlos Roberto Marques da Silva (PTB-Poá) e Waldemar Marques de Oliveira, o Dema (PSDB-Ferraz), além do então deputado estadual Junji Abe (PFL). Todos eles comentaram a gravata usada pelo secretário, com vários trenzinhos na sua estampa. As alusões ao desenho foram inevitáveis.
Como também citado na coluna, a vinda dos espanhóis ao Alto Tietê também trouxe marcas ao Alto Tietê, tanto no âmbito dos transportes quanto no campo político. No primeiro item, a CPTM retirou os trens espanhóis de circulação meses mais tarde. A alegação oficial naquele tempo foi a onda de apedrejamentos das composições ao longo dos trilhos. Muitos vidros foram quebrados, principalmente na região de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes, e Zona Leste da Capital.
Por conta dos prejuízos, a companhia decidiu retirá-los da linha Brás-Estudantes (hoje, Luz-Estudantes). Atualmente, esses mesmos trens atendem ao itinerário responsável pela região do ABC (Luz-Ribeirão Pires). Para o Alto Tietê, sobraram somente os vagões mais antigos reformados e o Expresso Leste, mas apenas entre as estações Luz-Guaianases. E agora, as autoridades discutem a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Vai saber....
No aspecto político, me lembro do jogo de xadrez que se tornou o apoio aos candidatos a governador naquele ano. Estevam foi o único do antigo PFL na região na contramão do partido. Abandonou Paulo Maluf, que sempre foi seu aliado, e anunciou ajuda a Covas. Já Junji Abe decidiu oficialmente seguir a orientação da legenda.
Ele até chegou a pedir votos para Maluf no horário eleitoral gratuito. Porém, o ex-parlamentar me confidenciou numa entrevista, no mesmo ano, que queria apoiar Covas a qualquer custo, mas tinha um caminho a seguir. Recado bem dado para um bom entendedor....
Após o desfecho do segundo turno, com a vitória apertada de Covas, Junji não perdeu tempo. Logo na segunda-feira pela manhã, o deputado foi ao gabinete de Estevam e pediu sua ajuda numa possível reaproximação junto ao governador reeleito. Também estava lá para repercutir o resultado com prefeito suzanense, pois ele estava numa boa posição política e em cima da carne seca.
No entanto, faltou para mim aquela malandragem adquirida com o tempo. Infelizmente, engoli a versão de Junji, de que tinha ido ao encontro de Estevam para discutir os próximos passos do partido. Antes, não sabia que a declaração oficial significa exatamente o oposto dos bastidores. Desta forma, o prefeito confirmou a história.
Depois de presenciar esses fatos, posso afirmar tranquilamente que os primeiros passos jornalísticos na região me ensinaram muitas qualidades. Nessa relação, estão o senso crítico, a experiência e um faro mais apurado para enfrentar coberturas maiores, como eleições presidenciais, grandes casos de polícia e acontecimentos do noticiário econômico. Este último se tornou a minha especialidade.
De volta ao presente, o jeito é acompanhar os novos passos dessas histórias meramente como espectador por causa da minha recuperação. Daqui, eu apenas posso contribuir com as histórias regidas pela minha memória. Parabéns ao Márcio por estimular as minhas recordações de forma tão eficiente e contundente (até rimou).
Quem quiser conferir a coluna, pode acessar o http://www.moginews.com.br/matpesquisa.aspx?idmat=25844&pchave=contracapa
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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