terça-feira, 14 de abril de 2009

Um aniversário inusitado

Mais um aniversário chegou. Na verdade, não se tenho motivos para comemorar, afinal vou ficar mais velho. Ou será que há justificativas para isso? Pois trata-se de um ano a mais de experiência, seja no aspecto pessoal ou no âmbito profissional ou também no lado afetivo. Não ficará a meu cargo responder esse tradicional dilema. Então, o jeito é contar história. Desta vez, o assunto será mostrar como passei uma das minhas 33 primaveras, sempre no dia 14 de abril, claro. Atingi a idade de Cristo quando morreu.

Agora, escolherei qual ano entre o período de 1976 a 2009 para detalhar uma dessas comemorações. Em meio a todo esse espaço de tempo, já festejei essa importante data no boteco, nos bares mais sofisticados, no quintal de casa junto com os amigos para comer pizza em plena Sexta-Feira Santa, na balada junto com um monte de amigas e até mesmo no motel com namoradas. Neste último caso, foram duas oportunidades já na fase adulta, evidentemente. Nos tempos de criança, fiz isso com uma bicicleta nova, uma Calói 10, que ganhei em 1989. Bons tempos.

No entanto, esse não foi o ano escolhido por mim para essa história. A seleção foi feita cuidadosamente por ter passado um aniversário de forma inusitada, bem no estilo jornalístico. Dentro daquele tradicional clichê de que um profissional desta área não tem feriado, folga e muito menos como programar a vida. Bom, vamos voltar no tempo, mais precisamente 12 anos atrás. 

Segunda-feira, 14 de abril de 1997. Saí bem cedo de casa, em Suzano, para ir à faculdade de jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Era o último dos meus quatro anos desse curso. Fui à aula de manhã e depois parti mais cedo em direção à Rádio Metropolitana, onde trabalhei entre 1994 e o ano dessa história. Abandonei antes do previsto o meu posto de estudante para assumir a minha função de repórter da emissora devido à importância dos fatos. Naquela ocasião, estava em andamento mais uma rebelião na Cadeia Pública daquela cidade.

Como era repórter de polícia da rádio, já sabia sobre o motim. Como manda o figurino, telefonei para Nilsa Santos, a chefe do Jornalismo da emissora naquela época, para saber se era necessária a minha presença. Imediatamente, ela disse que deveria acompanhar a rebelião. Assim, parti imediatamente ao local dos fatos. A vontade de cumprir o dever me fez esquecer de um simples detalhe: era meu aniversário de 21 anos.

Desta forma cheguei à frente da cadeia no final da manhã. O tempo passava e nada da revolta dos presos terminar. Os detentos exigiam a remoção de grande parte deles do local, que abrigava mais de 340 pessoas num espaço destinado para aproximadamente 60. De quebra, entrava na programação ao vivo e informava a situação de momento. Também aproveitava para dar as minhas inserções nas emissoras de São Paulo. A Rádio Capital sempre me acionava quando ocorria algum caso grave na região.

Por outro lado, a coitada da minha mãe preparava uma comemoração em família, com direito a lanches, guloseimas e bolo de aniversário. Isso deveria acontecer à noite, conforme programado. Deu tudo errado, devido à revolta dos presos. A tensão e o impasse nas negociações não avançavam. Desta forma, os repórteres da região e da capital continuavam na porta da cadeia. Inclusive o aniversariante do dia.

Como contornar esse imbróglio familiar? Como um celular ainda era artigo de luxo naquela época, telefonei para minha mãe do orelhão e a cobrar. Falei que ainda estava enrolado na cobertura da rebelião. Para não matar os meus tios, irmão, a avó e o pai de fome, pedi para servir o banquete. Enquanto isso, passava fome porque não podia abandonar o meu posto.

Como forma de lembrar de mim e do meu aniversário, os locutores que passaram pelos microfones do estúdio durante o motim sempre mandavam elogios e me desejavam felicidades pela data. Até os policiais no local vinham me cumprimentar. Mas a grande notícia chegou após a chefe me dispensar das funções porque percebeu que o motim não iria acabar naquela noite. Fui embora por volta das 22h30. Corri para o ponto e entrei no primeiro ônibus em direção a Suzano. Ou seja, passei o aniversário todo na frente de um presídio.

Cheguei na casa da minha mãe depois das 23 horas. Os tios ainda me aguardavam, me desejaram parabéns e logo foram embora. Conclusão, peguei bem o final de festa. E o que é pior, o fim da minha própria festa. Comi com tanto gosto os lanches e aperitivos. Não tinha nem almoçado em razão do trabalho. Nunca imaginei pegar os restos da minha própria comemoração de aniversário. 

Apesar da minha decepção de não ter chegado a tempo, as palavras da minha mãe serviram de conforto no final. Ela falou que o importante foi ter cumprido a missão do dia, mesmo no meu aniversário. A sensação de desconforto deu lugar ao clima de satisfação por não ter desanimado na cobertura jornalística em frente à cadeia. Mesmo bastante cansado, dormi com a consciência tranquila, por ter agido como deveria.

De volta ao presente, eu confesso. Mesmo sem festejar direito aquele aniversário, eu faria tudo de novo com toda a certeza do mundo. Afinal, são essas experiências que me fizeram amadurecer na profissão e enriquecer a minha carreira de 15 anos no jornalismo. O presente daquele ano foi justamente dar mais experiência para me transformar no que sou hoje. O lado ruim é que fica difícil marcar algo com uma rotina igual a essa. Preciso me conformar, pois escolhi essa área para trabalhar. A curiosidade me aguça cada vez mais a vontade de saber como serão os próximos aniversários.

Um comentário:

Zé! disse...

Parabéns Fujita! me lembro dessa história, aliás não foi a única história que vc passou cobrindo o dia todo. Parabéns pelo profissional e pela pessoa!