terça-feira, 28 de abril de 2009

É a vida

Perdi muitas coisas depois de ter sofrido o acidente de trânsito, bem no começo de novembro passado. A sensação é de que a minha vida teve um freio total, igual à tentativa feita por mim para parar o carro e evitar o desastre. O breque não foi suficiente com o carro, mas estagnou o meu dia-a-dia. Foram baixas pessoais e materiais, consideradas até demais numa só oportunidade. Apesar disso tudo, não reclamo de nada. Pelo contrário, pois recebi o melhor presente de todos.

Por conta desse fato, a perda do meu veículo foi total. A destruição atingiu a dianteira e também o interior do meu automóvel, recém-saído da funilaria. Estava com o veículo há dois dias. O objetivo era deixar tudo em ordem para vendê-lo e tentar adquirir um modelo mais novo. Agora o destino dele será, nada mais nada menos, que uma oficina de desmanche. Consertar todos os danos consumiria grana demais e correria o risco de não ficar do mesmo jeito. Tudo bem.

Mas não foi apenas o carro. No lado pessoal, perdi minha liberdade de morar sozinho, além da possibilidade de me locomover para onde quisesse ir. Com ou sem veículo, eu fazia isso. Como é bom poder agir desta maneira. Uma forma de também sentir saudades da família e visitá-la quando possível. No entanto, dei um ou dois passos para trás. Voltei a morar com os meus pais porque dependia da ajuda deles para tudo. Até na hora de tomar banho. Até hoje, resido com eles. Mas isso eu posso reconquistar logo.

Também tive perdas na minha vida afetiva. Por causa do acidente, o que pensei ser o grande amor da minha vida ficou apenas nas minhas lembranças. Como justificativa, só me resumo às diferenças das relações humanas. Cada um pensa de uma maneira. Alguns acham que devem agir de uma forma, outros pensam de forma divergente. Mas admito, pois tratava da baixa mais inesperada. Amei muito, demais, Deus sabe como. Mas Vinícius de Moraes já dizia "é eterno enquanto dura".

Parece uma história trágica, mas não é. Foi preciso contar tudo isso para justificar que as perdas nada se comparam à maior lembrança dada por Deus. O presente veio lá de cima, com toda certeza do mundo. Eu ganhei uma nova vida. Afinal, quem tem uma oportunidade de nascer de novo e ter a possibilidade de voltar à rotina sem sequelas, mesmo de forma gradativa? Precisei vencer barreiras, sofrimentos, desilusões, dores físicas e outros problemas.

Novamente, repito. A recompensa foi a vida, que dou mais valor desde então. A felicidade é tanta. Comemoro cada passo dado, ainda com dificuldades. Mas isso será passado. Na rua, o sorriso fica estampado no meu rosto. Os demais devem achar que tenho uma ótima situação financeira, sem dívidas e outras coisas mais. O que é isso em comparação com esse renascimento?

A resposta é nada. Quanto a andar de condução - ônibus, trem e táxi - para ir aonde quiser, isso não me desanima mais. Afinal, poderei me empenhar e comprar outro carro no futuro. Só preciso de vida e saúde. Já a perda de um amor, não interpreto como uma baixa porque talvez eu ainda não tenha encontrado a pessoa ideal. Com a vida mais radiante dentro de mim depois do acidente, conseguirei essa outra meta. Sem querer ser redundante e pela última vez, é a vida.

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