Antes, havia pensado em escrever sobre um determinado assunto no texto postado anteriormente. Mas nem tudo sai conforme planejado. Bom, vamos ao tópico que deveria ter sido publicado antes. Nos últimos dias, voltei às lembranças da minha carreira de 15 anos e cheguei à conclusão. Poxa, só conto sobre os meus primórdios na minha região. Então, resolvi mostrar uma história ocorrida mais recentemente. Aí, vieram as recordações do meu último plantão de final de semana no Diário de São Paulo. Nessa ocasião, fiz a minha última grande reportagem no jornal e, por incrível que pareça, fora da minha editoria habitual, de economia.
Como ocorre desde o início de 2008, os repórteres de economia e variedades da empresa reforçam a equipe geral, chamada no jornal de editoria São Paulo, nos finais de semana. É o grupo mais importante do matutino. Então, eu também entrava nesse esquema. Por esse motivo, caí numa cobertura importante no último sábado e domingo que trabalhei: fui parar diretamente no Caso Eloá.
Para quem não se lembra, essa história consiste no assassinato da estudante Eloá Cristina Pimentel, de apenas 15 anos. Ela morreu com um tiro na cabeça disparado pelo ex-namorado Limderberg Alves depois de mantê-la refém por cinco dias no apartamento dela, em Santo André. O disparo ocorreu com a invasão dos policiais do Grupo Tático de Ações Táticas Especiais (GATE) ao local. Essa situação mobilizou toda a opinião pública e os jornalistas, evidentemente.
A invasão aconteceu no final da tarde de 17 de outubro, uma sexta-feira. O dia era a véspera do meu plantão, dias 18 e 19. Sábado e domingo, respectivamente. Quando todos na redação acompanharam esse momento pela TV, eu pensei: terei um longo plantão. Como fazia habitualmente, concluí as minhas reportagens do dia e fui embora porque ainda não estava envolvido nessa situação, mas entraria no dia seguinte. Deixei o jornal com aquele tradicional dilema de um jornalista nessas horas: o que farei?
Passei no bar ao lado da empresa, bebi aquela gelada para relaxar um pouco e conversei com alguns colegas da redação. No meio do bate-papo, veio repentinamente à conclusão que resolveria a minha dúvida. Decidi voltar às minhas origens porque a situação permitia, afinal estaria mesmo de plantão. Quis novamente sentir o gosto de realmente ser repórter e entrar num grande caso. Sou tão bobo assim em ainda vibrar como se fosse um iniciante?
Desta forma, tomei a iniciativa de telefonar para o Sérgio Roxo. Ele estaria na chefia de reportagem no plantão. Liguei e disse que o pessoal poderia me jogar na cobertura dos desdobramentos do caso. Para isso, apresentei vários argumentos: morava próximo a Santo André, em São Bernardo do Campo, conhecia a cidade vizinha e preferia ficar em campo em vez de sentado na redação.
Minha ação funcionou. No dia seguinte, ele e o restante da chefia do plantão depositaram confiança em mim. Desta forma, fui o estranho no ninho no acompanhamento do caso porque os demais repórteres em Santo André vinham da editoria São Paulo. Quanto a mim, há muitos anos eu não participava de coberturas desta natureza. Será que estava preparado para reviver tudo isso?
Empenhado devido ao meu próprio pedido, me juntei aos jornalistas Aiuri Rebello, Bruno Folli e Isis Brum, além dos repórteres fotográficos Daniel Mobília, Odival Reis, Fernando Dantas e Fred Chalub nessa empreitada. Fora isso, tinha uma maré de colegas de outros veículos de comunicação em frente ao Centro Hospitalar de Santo André, que virou o quartel geral dos profissionais na cobertura porque tanto a Eloá e a amiga dela, Nayara Vieira, estavam internadas. Essa última sofreu um tiro na face, mas se recuperou sem sequelas.
No sábado, fiquei responsável por localizar as demais pessoas que ficaram reféns no apartamento. Até fui feliz nisso porque consegui o endereço deles e dos familiares graças aos antigos contatos que fiz nos primórdios mogianos. Assim, encontrei o namorado de Nayara, Yago de Oliveira.
O jornal foi a primeira equipe de reportagem a achá-lo após o desfecho trágico. Em entrevista, ele demostrava que ainda estava muito chocado com o ocorrido e contou como Limderberg apareceu no apartamento e as primeiras horas de cativeiro. Por falta de espaço no jornal, infelizmente essa conversa foi descartada das páginas. Perdemos a exclusividade.
Mas o dia seguinte do plantão foi o mais produtivo. A chefia me escalou para acompanhar a entrevista coletiva dos delegados responsáveis pelo caso. Lá, consegui todo o andamento do trabalho policial e tive acesso ao primeiro depoimento de Nayara, dado antes dela voltar ao apartamento. Nele, estavam contidos os momentos de terror enfrentados por ela e pela amiga Eloá, que sofreu agressões do ex-namorado.
Por isso, a cronologia que consegui na delegacia virou a manchete do jornal. Bom resultado para o para-quedista do grupo, que desembarcou da economia para um plantão agitado. Foi muito legal, pois fui agraciado com isso depois de pedir para entrar no caso. Os outros repórteres vibraram com o ótimo desempenho, afinal conseguimos fazer um trabalho em equipe. E, no dia seguinte, os chefes do plantão vieram me agradecer pelo empenho e reforço. Veio novamente a sensação de mais uma missão cumprida.
Para mim, a experiência também foi muito legal porque fiz uma boa reportagem, que é uma verdadeira arte. Mais uma obra prima esculpida passo a passo com informação em cima de informação até a conclusão dela com chave de ouro.
Só consegui esse feito por ter atuado em campo e presenciado pessoalmente a notícia, sem a burocracia que virou o jornalismo. Hoje, dependemos mais de telefones, internet e, por isso, engolimos as versões sem analisarmos os fatos.
Aos poucos, perdemos a capacidade de avaliar e desconfiar. Talvez, eu ainda vivo na fase romântica da profissão. E podem me chamar de jornalista das antigas porque é um orgulho para mim. Pelo menos, não me prendo na cadeira e desempenho de forma burocrática a minha profissão. Bom, cada um escolhe sua maneira de atuar, mas a minha ainda é partir para o sacrifício.
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