sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os últimos seis meses

Todo o dia primeiro de maio é feriado em comemoração ao Dia do Trabalhador. Nessa data mundial, as pessoas festejam ou protestam como forma de exigir a geração de mais empregos. Neste ano, a segunda opção ficou mais evidente por conta da crise, que acarretou um corte acentuado do número de vagas em todo o planeta, inclusive no Brasil. Consequência da lógica menos consumo-produção em menor escala-necessidade de uma quantidade menor de postos nas empresas. Raciocínio questionável, mas comum quando há retração na economia.

Para mim, esse dia tem algo muito mais além que um simples feriado. O acidente de trânsito que sofri em São Bernardo do Campo completou seis meses. Com isso, já se passou metade de um ano de uma forma completamente diferente do habitual. Desde então, estou sem trabalhar por causa da minha recuperação física. Como o tempo passa, não é mesmo?

Ao contrário dos dois anos anteriores no Diário de São Paulo, acompanhei as festividades do Dia do Trabalhador em casa pela TV e internet. Para as pessoas normais, algo completamente normal. Para os jornalistas que atuam na editoria de economia, é um dia de muito serviço para cobrir os eventos organizados pelas centrais sindicais. Em 2007 e 2008, por exemplo, acompanhei todos os passos da festa feita pela Central Única dos Trabalhadores (CUT).
 
Apesar do cansaço gerado por uma ampla cobertura, eu tenho boas lembranças. Nessas oportunidades, costumo encontrar muitos colegas de profissão que estão em outros jornais ou mesmo os assessores de imprensa das entidades organizadoras. Há espaço para conversas sobre diversos assuntos para distrair a cabeça. E também um momento de deixar a burocracia de apurar reportagens por telefone ou e-mail e ficar atento aos acontecimentos de perto. Coisas do jornalismo mais romântico.

Os seis meses parados também serviram e muito para refletir. Várias situações profissionais e pessoais não estarão no mesmo lugar como deixei antes do acidente. Muita coisa mudou e poderá ser alterado quando voltar à minha vida normal. Gostaria que algumas delas não se transformassem, mas paciência. Até a ortografia da Língua Portuguesa sofreu transformações e precisarei aprender sobre isso.

Por outro lado, outras situações surgiram repentinamente para minha alegria. Estão dentro das transformações acima citadas. Como é bom receber apoio moral, espiritual e afetivo das pessoas que realmente gostam de mim. Devem ter consideração mesmo, pois não sou unanimidade entre o público. Não é trágico, mas como disse Darwin Valente, editor-chefe do Diário de Mogi, "é preciso tirar boas lições de tudo". As palavras foram em 2000 e nove anos depois, eu consegui isso no acidente.

São com essas mudanças que me preparo para voltar à correria do dia-a-dia. Para quem acreditou, torceu e sofreu por mim, toda a corrente positiva não foi em vão. Honrarei cada preocupação trazida por mim nos tempos difíceis de recuperação. Já para aqueles ou aquelas que ignoraram essa história ou abandonaram o barco, voltarei com o sentimento de ter dado a volta por cima. E me aguardem. Se o meu retorno incomoda, o problema é seu. Sem ressentimentos.

Quanto a mim, quero seguir em frente renovado. Não sou mais o mesmo porque aprendi a valorizar mais a vida que ganhei pela segunda vez. Tomara que tenha me tornado uma pessoa melhor. E confesso uma coisa. Pensava em escrever sobre um assunto e, no decorrer do texto, relatei algo bem diferente do previsto. Igual ao nosso dia-a-dia porque nem sempre algo sai conforme planejado. Esse é gosto mais saboroso de viver.

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