sexta-feira, 8 de maio de 2009

O teste que virou manchete

Vou retomar aquela missão de mostrar algumas imagens dos meus 15 anos de profissão. Desta vez, a viagem no tempo não será muito grande. Digamos, um pequeno deslocamento. Retornaremos ao ano de 2005, quando iniciei a minha nova incursão. Desta vez, desembarquei no ABC Paulista para trabalhar no maior jornal daquela região, considerada uma das mais desenvolvidas economicamente. Afinal, era um prato cheio para trabalhar no setor onde atuo desde 2000. E, ao mesmo tempo, se tornaria a minha porta de entrada para a grande imprensa.

Aterrissei no Diário do Grande ABC graças a uma indicação feita pelo amigo Frederico Rebello Nehme. O jornal precisava contratar um repórter de economia e ele sugeriu o meu nome junto aos dois editores de economia daquela época. Eu e o Fred, como é conhecido, trabalhamos juntos no ValeParaibano, em São José dos Campos. Por isso, se lembrou de mim porque havia atuado nesse setor no interior do estado.

Desta maneira, fui chamado para fazer um teste e, desta forma, concorrer à vaga aberta. Na verdade, compareci sem muita expectativa, pois naquela época era assessor de imprensa na Assembléia Legislativa. Ao contrário do que pensei, o resultado desse processo foi muito mais além do imaginado. Tudo começou quando os editores Marcelo Moreira e Fausto Siqueira passaram uma pauta sobre exportações de caminhões como forma de me avaliar.

Corri atrás da história. Primeiro, ouvi alguns representantes dos trabalhadores que ficam dentro das montadoras de veículos. Para o meu desespero, o assunto não decolava. Mas o roteiro de tudo isso começou a mudar quando fiz uma pergunta um tanto boba, mas sempre necessária na apuração de uma reportagem. "Fora isso, tem mais alguma novidade?", questionei o entrevistado, um representante da Comissão de Fábrica da Scania.

Ao fazer isso, ele me revelou que a empresa havia aberto um Programa de Demissões Voluntárias, o conhecido PDV, como forma de persuadir os trabalhadores a pedir desligamento, com incentivos financeiros além da rescisão do contrato. A informação era importante porque a região enfrentava uma onda de PDVs nas montadoras.

Ao informar a descoberta para os editores, os dois ficaram eufóricos com a notícia. Pediram se eu poderia continuar na apuração da reportagem. De quebra, eles colocaram para me ajudar o próprio Fred e Leone Farias. Esse último é o repórter mais experiente da editoria. Fiquei surpreso com tudo isso. No final da tarde, anunciaram que o meu simples teste tinha virado a manchete do jornal do dia 01 de junho de 2005. Ou seja, havia praticamente conquistado a vaga. Pura sorte de ter feito a pergunta certa na hora certa.

Assim, reforcei a equipe de economia do jornal. Por quase um ano, fui o repórter que cobria o movimento das montadoras do ABC, região considerada o berço do segmento automotivo do país. Por esse motivo, tratava-se da área mais importante da editoria. Logo na primeira semana, foi uma manchete atrás de outra.

Tanto que um amigo de longa data nesse jornal, Roney Domingos, disse: "chegou apavorando, hein!". Nós dois havíamos trabalhado juntos no Diário de Mogi das Cruzes. Outros repórteres mais antigos chegaram a me falar que não se importavam em dar a principal notícia do dia. Seria despeito ou incapacidade? Isso não importa para quem procura sempre fazer o melhor possível.

Os plantões do final de semana eram divertidos. Em algumas ocasiões, o povo até fazia foto nossa para fazer brincadeiras com a própria desgraça de trabalhar enquanto o restante da família está em pleno descanso. A seguir uma imagem desses momentos. Pela ordem, o diagramador Eder Marini, Marcelo Moreira e eu:



Esse período foi muito bom, talvez um dos melhores da minha carreira. Consegui despontar numa área importante e com respaldo dos editores, inclusive para fazer reportagens negativas contra as grandes montadoras. Além disso, essa passagem também foi interessante porque trabalhei ao lado de uma das melhores equipes que atuei. Só perde para o grupo do Terra TV.

Além dos editores, do Fred e do Leone, também compunham a editoria Hugo Cilo, Mariana Oliveira, William Glauber, Luiz Frederico, Roberto Izuka e Adriana Mompean. Essa última é uma das únicas remanescentes ainda no jornal junto com o Leone. Os demais já deixaram o Diário do Grande ABC graças a novas oportunidades ou devido aos altos e baixos da profissão.

Já a maioria da equipe foi para grandes redações, como O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, IstoÉ Dinheiro, portal G1 e assessorias de imprensa. No meu caso, deixei esse jornal em razão de divergências com o editor que assumiu o comando no lugar de Marcelo Moreira e Fausto Siqueira. Tudo bem, afinal consegui a proeza de sair do Diário do Grande ABC no dia em que tinha dado a manchete do dia novamente. Pelo menos, não foi por falta de capacidade técnica.

Por outro lado, pensei por algum tempo que minha passagem por esse matutino tinha acontecido simplesmente devido a um único e mágico momento pessoal. Mas foi apenas mais um local onde enriqueci minha trajetória profissional. Ainda bem. Considero que o Diário do Grande ABC foi o primeiro degrau para o meu amadurecimento no jornalismo, apesar dele ter perdido o vigor editorial de décadas passadas. Coisas do tempo, que passa e traz transformações.

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei a matéria do dia 8/5,vc realmente é um grande jornalista te admiro...para de estudar para dar uma lida no seu blog!