domingo, 1 de março de 2009

Diálogo com o taxista

É fácil ser feliz quando tudo está muito bem obrigado. Nos bons momentos, todos são seus amigos inseparáveis, dizem que a amizade fica acima de tudo e outras coisas mais. Num relacionamento, o companheiro (ou companheira) faz aquelas tradicionais juras de amor e as promessas nem sempre cumpridas, como o apoio incondicional  nas horas de alegria e nas situações de dificuldades. Ledo engano. Tratam-se apenas de palavras da boca para fora. Uma pena.

Cheguei ainda mais a essa conclusão ao percorrer as ruas de Suzano na noite do último sábado, a bordo de um táxi da cidade. Naquela típica conversa no caminho, o motorista contou um pouco da vida dele. Os detalhes, no entanto, estavam bem  longe daqueles diálogos recheados de humor retratados no programa "Faça Sua História", da Rede Globo. O rapaz de meia idade disse que a esposa havia abandonado o lar, após uma fase turbulenta da família.

Como sempre manda a curiosidade de jornalista, deixei o taxista falar durante a viagem. Com ar de decepção, relatou que a mulher foi embora depois de problemas financeiros sofridos pelo casal. Não entrou muito em detalhes, mas garantiu seu esforço para enfrentar e superar essa barreira. Pode parecer armação, mas não é. A situação se agravou quando ele sofreu um acidente dentro do veículo responsável pelo sustento de todos.

E a coincidência comigo não para por aí. O desastre também foi em novembro. Ao contrário da minha história, o acidente não causou ferimentos no rapaz. Porém, serviu para complicar ainda mais o caminho desse motorista. O ápice da crise chegou com a saída da esposa da residência. Não vou defendê-lo, mas a história parecia verdadeira.

Desta forma, eu me coloquei um pouco no lugar dele. Afinal, as coisas mudaram muito após o acidente. Algumas pessoas simplesmente deram as costas num momento em que mais precisava Muitas pessoas que juravam fidelidade à amizade sequer apareceram. Não me importo, pois sempre filtrei essas declarações, mesmo nos momentos de alegria. É realmente possível saber quem realmente gosta de mim num percalço igual a esse. Em alguns casos, a decepção também chegou, mas não mata. Logo, ela vai embora e me fortalecerá.

Apesar de todas essas palavras, eu fui solidário ao taxista num esforço de amenizar o sofrimento contado atrás do volante. Falei as frases típicas para esse tipo de situação. Não vou reproduzi-las porque todos sabem quais são. Por outro lado, ele arrematou com um conteúdo bem consciente. Afirmou que era melhor ser abandonado agora, pois poderia se deparar mais com uma condição de doença, quando muitos dependem da ajuda dos semelhantes. 

Assim, a viagem acabou. Havia chegado novamente em casa. Ao descer do táxi, agradeci a corrida, disse para o rapaz ter muita força. O taxista também retribuiu a gentileza e se colocou à disposição quando precisar novamente dos seus serviços. Por isso, torço para esse motorista superar toda essa decepção.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essas sim são as verdadeiras histórias da vida real, os taxistas que honram seu trabalho, são pessoas sofridas que dia e noite se expõem a a salada de reações por parte dessa sociedade doentia em que vivemos, vivem histórias belas e outras não tão belas. Parabéns a estes profissionais que tanto nos ajudam a chegar em nossos destinos.