quinta-feira, 12 de novembro de 2009

As lembranças da escuridão

Noite de 10 de novembro de 2009, uma terça-feira. Tudo transcorria normalmente. Comemorava a despedida de um colega que havia deixado o jornal onde trabalho para voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade natal. A festa era num tradicional bar na praça Roosevelt, bem no centro da maior cidade do Brasil. O desfecho dessa história seria algo um tanto normal, se não fosse apenas um detalhe. O fornecimento de energia havia sido suspenso. Escuridão total.

O horário era por volta das 22h15. No início, todos que estavam no local apenas reclamaram. O pessoal na mesa também pensava na possibilidade de ser um simples queda da eletricidade. Como precisava ir embora para Suzano, eu e outro repórter do Diário de São Paulo, o Fabiano Nunes, tentamos fazer o retorno para casa. Fomos em direção à estação República do metrô.

Atravessamos a Rua da Consolação e percorremos um trecho da Avenida Ipiranga. Era um escuro sem precedentes. Assim, improvisei uma lanterna com o flash da câmera do meu telefone celular. Ao chegarmos à estação, vimos que havia luz, mas veio a informação que o sistema de metrô estava totalmente parado. Aí, percebemos a gravidade da situação. O Fabiano telefonou para a família em Guarulhos. Coube a mim verificar se havia acabado a luz com os meus pais, em Suzano.

Desta forma, nós dois tivemos a mesma resposta. Tudo estava apagado. Então, o jeito foi ligar o rádio FM do meu celular para sintonizar as notícias do momento. A partir daí, tomamos conhecimento de que o fornecimento de energia havia sido suspenso para mais a metade do país. Ou seja, a maior cidade da América do Sul estava totalmente apagada. Nunca havia visto tanto caos em Sampa. O apagou apavorou mesmo a todos.

Ainda percorria as ruas próximas. Na tentativa de voltar ao bar, presenciei um festival de problemas. Trânsito confuso devido à falta de funcionamento dos semáforos, pessoas preocupadas do lado de fora da estação do metrô para saber como voltariam para casa e até atropelamento na Ipiranga. O Fabiano ainda comentou: "caramba, mas que bagunça."

Voltamos ao bar. Como não tinha como usar o metrô, o Fabiano decidiu ficar na casa do Herculano. Quanto a mim, pensava na possibilidade de retornar naquele mesmo dia. A luz só voltou à zero hora de 11 de novembro, quarta-feira. Foi o momento para tentar usar o metrô. Mas a estação estava fechada. O jeito foi dar uma volta como forma de pensar como faria para fugir da enrascada.

Quando estava na Consolação, a energia acabou outra vez. Parei num posto de gasolina para esperar o restabelecimento da eletricidade. Esperei até 1h30, quando a luz voltou. Mas nesse período de aguardo, aconteceram coisas horripilantes. Vi de perto a ação de ladrões, que aproveitaram a escuridão. Num desses casos, um marginal levou a bolsa de uma moça.

O outro caso aconteceu bem na esquina da Consolação com a rua Nestor Pestana. Um rapaz tentou roubar algo de um outro homem. Não consegui saber o que era porque eles estavam distante. Além de escuras, as vias estavam totalmente inseguras.

Fiquei no posto até a eletricidade voltar com força total. Quando isso aconteceu, fui dar mais uma volta para pensar como faria para retornar a Suzano ou ficar em São Paulo por conta do problema. Foi neste momento que aconteceu o fato mais inusitado em meio a esse apagão.

Encontrei com um colega de Suzano que queria sair para as baladas paulistanas. Ele me convenceu a ficar junto com ele, afinal, teria carona garantida de volta. Caímos para dentro da Love Story. Não tinha outra alternativa, senão me embalar nos agitos. Consegui chegar em casa só às 7 horas. Apesar dos sérios transtornos, nunca pensei que teria lembranças tão boas desse apagão.

Um comentário:

Carla Dias disse...

Eric, só vc pra "se dar bem" no apagão! HAHAHAHA

Quando se trata de Erc Fujita, tudo é possível, já aprendi isso!