Mais um domingo de sol e com temperaturas amenas para um inverno. Ou seja, um dia bem propício para fazer um belo passeio com a família ou namorada e com o animal de estimação. Assim, fui para a rua em meio a esse maravilhoso cenário para dar uma volta de carro. Porém, a saída era da redação do jornal com o veículo da empresa em direção a mais uma pauta que pintou em meio ao plantão do último final de semana.
No nosso roteiro de passeio, digo de trabalho, era Guaianazes que fica na extrema Zona Leste de São Paulo. Eu e o motorista Eduardo levamos quase uma hora para chegar ao bairro com um objetivo nada agradável. Na verdade, vou mais além. A chefia da equipe de plantão me deu a missão que considero uma das partes mais ingratas da profissão porque significa lidar com o sofrimento alheio.
É muito ruim estar nessa condição de entrevistar a família de um taxista assassinado com dois tiros - um no peito e outro na perna - por um passageiro durante uma corrida. O acusado levou a carteira dele, mas não se sabe se de fato foi um latrocínio (roubo seguido de homicídio) ou se o autor dos disparos tinha a pretensão de matar a vítima.
Apesar da dúvida, a pior parte ficou comigo na hora de apurar a história. Como é complicado abordar os parentes num momento tão doloroso por ter perdido um ente querido. Mas isso não é uma reclamação do meu serviço.
Tecnicamente, eu consigo fazer tudo isso devido à experiência adquirida aos longos dos meus 15 anos nessa luta. Mas às vezes, eu me pergunto. Será que deixei de ser jornalista ou fiquei mais humano depois de sofrer o acidente de carro ao sentir um aperto na hora de conversar com o filho do taxista?
Afinal, eu percebi o sofrimento estampado no rosto dele. E a situação piorava quando chegavam os amigos e o abraçavam. Presenciei o choro dele por algumas vezes. Dava uma sensação de impotência por não poder fazer nada.
A minha sorte foi ter contado com a colaboração do rapaz, que contou os detalhes de como a família estava naquele momento tão ruim. Também precisei utilizar todo meu cuidado na hora de fazer as perguntas. Queria me esforçar em não tocar ainda mais numa ferida aberta nele em razão desse crime tão brutal.
Ao deixá-lo a vontade, o filho contou muitos detalhes interessantes, como o perfil calmo do seu pai, que sempre orientava a família a nunca reagir a um assalto. Além disso, ele revelou que havia pedido para a vítima não ir trabalhar naquela noite para terminar de assistir a um filme.
Ele também mostrou algumas situações não mostradas no jornal em virtude da tradicional falta de espaço. A mais tocante foi a de que o taxista acompanhava todos os passos do tratamento da esposa dele, que tinha problemas no pulmão. Às vezes, ele deixava de trabalhar para poder levá-la ao hospital. Por causa da saúde debilitada, ela precisou ser levada a uma unidade médica para ser sedada e depois sim receber a notícia.
Com a bela história na mão, o jeito foi enfrentar novamente o caminho de volta ao jornal. Deu uma preguiça, pois estava mais perto de casa. Afinal, o velório onde fui fica bem na divisa com Ferraz de Vasconcelos. Levaria apenas 15 minutos dessa cidade até Suzano. Mas precisava retornar ao jornal.
No carro, cheguei a uma resposta. O fato de não mais fazer reportagens policiais com muita frequência talvez tenha me deixado mais emotivo. Por outro lado, também veio o sentimento mais importante em meio a toda essa história: fui novamente tomado pela sensação de ter cumprido mais essa missão confiada a mim.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
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Um comentário:
Eu que já trabalhei como repórter de policia,e fiz esse tipo de abordagem, sei o quanto é complicado. E no Serviço Funerário, aprendi ainda mais a entender a dor e o sofrimento destas famílias. Não é fácil, mas com ética, com sentimentos e vivência, solidariedade com estas famílias e vontade de se buscar justiça através da informação, podemos oferecer a elas, um mínimo de alento.
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