segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Nas ondas do rádio

Início de mais uma semana pela frente. O jeito é substituir uma repórter lá no jornal. Nas próximas duas semanas, estarei à frente do tablóide Emprego Já. Esse produto foi desmembrado do Diário de São Paulo e agora pode ser encontrado todos os domingos com reportagens somente de vagas abertas nas empresas. Porém, essa novidade não foi o que movimentou esta segunda-feira. Na verdade, a grande surpresa é ter voltado aos microfones de uma rádio.

O espanto ocorreu porque eu não falava nas ondas do rádio há algum tempo. A última tentativa foi no ano passado. O mais legal é ter participado de um programa de grande audiência, numa das emissoras mais fortes da Grande São Paulo: a Rádio Globo.

Ao entrar no estúdio montado na redação do jornal para fazer uma parceria com a emissora, a minha memória voltou ao início da minha carreira, quando trabalhei na Rádio Metropolitana de Mogi das Cruzes. Lá, aprendi um pouco do que sei sobre esse encantador veículo de comunicação. Eu confesso: de todos, é o mais adorador de se fazer, na minha modesta opinião.

E o mais engraçado de tudo foi participar do Globo Cidade. Na verdade, a surpresa foi saber que eu tenho algo bem em comum com o apresentador do programa, o Oswaldo Pascoal. Nós dois começamos a carreira na mesma Rádio Metropolitana. Ele, é claro, fez isso há muito mais tempo. Mas é sempre bom lembrar que onde iniciei minha carreira no rádio foi uma verdadeira escola para muitos.

De volta ao presente, retornei minha cabeça para aquela mesa do estúdio avançado na redação do Diário de São Paulo. Assim, entrei no ar com as informações contidas no Emprego Já. Foi uma ótima volta às ondas radiofônicas, mesmo com uma participação muito pequena. Por outro lado, isso me mostrou que é igual em relação a andar de bicicleta. Quando a gente aprende, nunca mais esquece. Ainda bem.

domingo, 30 de agosto de 2009

As repercussões da vida

Como estou surpreso porque as situações da vida repercutem mesmo. Isso acontece principalmente dentro desse meu meio profissional. Soube que muitos colegas de jornalismo perguntam ou conversam entre eles sobre os fatos referentes ao acidente de trânsito e inclusive os seus respectivos desdobramentos ou histórias paralelas surgidas desde então. Não imaginava algo desta forma.

De um lado, fiquei bastante feliz por um único e simples motivo. Talvez esse pessoal se importa realmente comigo. Tudo bem, uma fofoca sempre vai surgir. Afinal, somos jornalistas e gostamos sempre de novidades. Legal ser lembrado assim. Azar de quem não gosta da minha pessoa ou simplesmente sumiu.

Na minha modesta opinião, essa situação só é possível como uma consequência da minha forma de agir e da minha personalidade. Trata-se do resultado de ser alguém sincero, leal, prestativo e, sobretudo, procuro ter caráter. Desta forma, os demais sabem como eu sou de maneira aberta. É muito ótimo conquistar o respeito dos outros meramente pela minha personalidade.

Por isso, eu digo. Como é bom ter dignidade. Devido a esse fator, consigo colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente. Tenho defeitos, como todos os outros. Porém, eles talvez sumam em meio às virtudes. Os colegas de profissão gostam de mim mesmo assim.

Ainda bem que eu não tenho a sensação de pisar em ovos no meu meio de trabalho. Afinal, quem deve no cartório, sempre tem medo. E isso leva à covardia, algo meramente abominável.

sábado, 22 de agosto de 2009

Procura-se uma tia

Quando meu irmão me contou a novidade, em agosto do ano passado, pensava que tudo estava nos conformes. Tinha toda a certeza do mundo sobre a família estar completa. O tempo passou e a Rafaela nasceu, em fevereiro passado. Mas a situação era totalmente diferente em relação àquela feliz notícia dada seis meses antes. A recém chegada bebê não tinha mais uma tia. As coisas nem sempre acontecem de acordo com o planejado.

Passados seis meses após o nascimento, decidi lançar uma campanha favorável à sobrinha. A partir de agora, a pequena criança procura uma candidata à tia que seja bastante carinhosa. O dever (se posso chamar assim) dela é dar bastante bajulação e atenção, de todas as formas. Em troca, a Rafaela promete oferecer bastante alegria e elementos para proporcionar mais conforto no coração. Quer uma recompensa melhor que essa?

Afinal de contas, é o único tipo de parente que ela ainda não tem, apesar das duas tias-avós bastante amorosas. A bebê já conta com um pai babão, uma mãe atenciosa, uma irmã e um irmão companheiros, dois avós amáveis, até uma bisavó atenta a tudo. Além disso, está o tio aqui, coruja e loucão, como os demais mencionam porque suas atitudes malucas divertem a menina. Mas ainda falta uma tia direta.

Às interessadas, mostro novamente a Rafaela. Ela não é uma graça? Aqui, a bebê está no colo do tio:



Mas, para ser a tia da Rafaela, a interessada terá mais uma missão. Por tabela, precisará aturar esse tio aqui com muitos defeitos difíceis de lidar. Eu confesso. Por outro lado, existem as virtudes que talvez compensem e o transformam numa pessoa capaz de também ser amável, não de forma tão graciosa quanto à bebê.

Agora, também preciso mostrar um pouco desse tio aqui. Trata-se de uma pessoa que tenta ser digna, leal, parceira e ter bastante caráter. Digo isso no condicional porque talvez esteja errado e deixarei para as candidatas descobrirem se realmente sou tudo isso. Afinal, se fosse afirmação, poderia ser até um tanto convencido, não é mesmo?

As candidatas podem ser morenas, loiras, ruivas...Não há um tipo físico específico para essa vaga. Basta apenas alegrar a pequena criança. Desta forma, quem se habilita a se tornar a tia da Rafaela?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Adeus, tio Pedro

Infelizmente, encontro forças para escrever algo aqui, mesmo depois das últimas 30 horas. Nem sempre tudo é felicidade. Apesar disso, resolvi passar por aqui para falar sobre o meu padrinho, o tio Pedro. É o mínimo que poderia fazer em sua homenagem, depois de passar por tanto sofrimento causado por essa doença maldita, chamada câncer. Ele morreu nessa segunda-feira (17-07), vítima desse terrível mal.

Pode parecer frieza da minha parte, ao colocar isso aqui nesse espaço. Mas como descarregar toda a tensão dessas últimas horas? No meu caso, essa tentativa de escrever atenua um pouco o peso, com toda certeza do mundo. De fato, confesso: as coisas ruins da vida vêm mesmo de uma vez só, de forma sucessiva. Porém, faz uma pessoa crescer moralmente porque precisa superar os entraves.

Quando recebi a triste notícia, transmitida pela minha mãe, veio um verdadeiro filme na minha cabeça. O personagem principal, claro, era o meu falecido tio, que conviveu comigo durante toda minha infância. Há uma oficina desativada nos fundos da minha casa, onde ele trabalhava com lapidação de pedras semipreciosas naquela época. Ainda pequeno, ia sempre lá para vê-lo nesse serviço.

Em troca, o tio sempre me carregava para casa dele na hora do almoço. Aproveitava para visitar as minhas primas mais velhas e a minha tia. Fora isso, ele me deixava brincar dentro do carro dele naquele tempo, uma Brasília branca. Eu me sentia um verdadeiro motorista dentro dela.

Por outro lado, aprontei muito nesse carro. Minha mãe ficou doida ao me ver em pé, em cima do capô. Não sei como não amassou.

Outra passagem que veio na minha cabeça foi o fato do meu tio brincar com os cachorros do quintal de casa. Muito engraçado. Ele uivava alto com um cano de PVC para provocar os animais. Todos começavam a imitar o barulho. Algo hilário. Isso só mostra que o amor pelos cães vem mesmo de família. Meu pai também cuida muito bem deles.

No entanto, todas essas passagens estavam muito longe da imagem que eu vi dele pela última vez, ao visitá-lo na casa dele em julho. Ele conversava, estava lúcido e perguntou como eu estava. De fato, o conteúdo era como se fosse meu último diálogo antes dele morrer. Na hora, nem mesmo percebi isso. Pelo menos consegui falar com ele antes de partir. Ainda bem.

Por essas e outras que eu optei por me recordar das boas passagens e esquecer do sofrimento que ele passou. Deve ter sido demais, e me dá aflição só de falar nisso. Agora, é olhar para frente para eu e toda a família continuarmos nessa jornada que não para. Só garanto uma coisa. Apesar das lágrimas de todos nós (inclusive as minhas bem no final desse texto), o nosso tio Pedro está numa condição bem melhor porque já encontrou a paz.

domingo, 16 de agosto de 2009

Meio ano de vida

Seis meses se passaram. Como o tempo vai embora muito rápido, pois parece que isso aconteceu ontem mesmo. A gente não percebe esse transcorrer tão ágil de nossa vida. Estamos numa data muito importante, Desde fevereiro, a família sempre comemora todo o dia 16. E, agora em agosto, a sobrinha Rafaela completa meio ano de vida. De fato, é bem a metade.

Por esse motivo, agora escrevo aqui da redação do Diário de São Paulo, em pleno plantão do final de semana. Meus serviços vão ficar atrasados com toda a certeza do mundo. Mas eu não me importo se isso vai acontecer porque tomei um pequeno período do expediente para falar sobre essa pequena pessoa, que trouxe muitas alegrias para todos nós. Inclusive para esse tio coruja aqui.

Serei repetitivo, mas tudo bem. Afinal uma bebê não completa seis meses outra vez. A Rafaela chegou para reacender a chama da sinceridade e da candura junto aos adultos. Ninguém consegue resistir aos encantos da menina. Nem mesmo o avô paterno, que fica todo bobo quando a pequena vai na casa dele. É muito alegre ver uma pessoa mais reservada trocar o silêncio por brincadeiras junto à bebê.

Para o tio Coruja aqui, ela trouxe de volta o espírito de família, até então adormecido. Além disso, o transformou numa pessoa mais feliz e carinhosa. Porém, ficou mais bobão devido às brincadeiras junto à pequena bebê. Tudo em troca de um simples e importante sorriso dela. Ainda bem que ela sempre corresponde.

Mesmo fora da condição de pai, ficar junto à sobrinha sempre traz uma emoção diferente. De fato, uma bebê realmente dá conforto e muita paz no coração. Simplesmente, me faz esquecer dos problemas, das dívidas e da correria do meu dia-a-dia em razão do jornalismo. Agora, o jeito é esperar a passagem de mais seis meses para festejar o primeiro ano de vida dela.

Se depender de mim, a contagem regressiva será feita a cada mês. Quanto às fotos dela, farei essa atualização mais tarde ou no dia seguinte a essa publicação porque não consigo fazer isso aqui no jornal.

Agora sim, consegui colocar essas imagens. Olha como ela observa o fotógrafo:




Aqui, ela abriu um grande sorriso:


sábado, 15 de agosto de 2009

Uma epopéia paulistana

Essa sexta-feira passada foi uma verdadeira história para contar. Na verdade, alguns fatos me obrigaram a fazer um grande roteiro de visitas em pleno centro de São Paulo no final da noite. A programação foi tão grande que precisei utilizar toda a madrugada de sábado. Afinal, queria aproveitar mesmo com um plantão de final de semana à frente para enfrentar. Tudo bem, pois a trajetória toda em meio a esse grande período de curtição não é um poema com atos heróicos ou grandiosos. Mas se transformou numa verdadeira epopéia paulistana.

Tudo começou quando eu e um amigo decidimos ir à balada organizada todas as sextas no antigo Hotel Cambridge. O local se tornou um verdadeiro ponto para os notívagos da capital. Chegamos ao local. Decidimos entrar para curtir essa balada. Porém, ao adentrar no salão, veio uma grande surpresa. Ao contrário de 15 dias atrás, o lugar estava muito vazio. Então, o jeito foi ir embora atrás de uma outra festa mais agitada.

Desta forma, ele recomendou um evento organizado numa antiga casa localizada na rua Frei Caneca. Inicialmente, não curti muito a ideia. Não é preconceito, mas o endereço é conhecido por ter uma grande concentração de homossexuais. Por isso, pensei que essa festa seria GLS. Como sou heterossexual, queria ir a um ambiente onde pudesse ver a movimentação feminina. Imediatamente, ele descartou essa possibilidade: "Tem muita mulher bonita lá". Aí, eu me animei.

O número de personagens dessa epopéia aumentou quando outras duas colegas apareceram para compor o grupo. Desta forma, entramos na festa chamada Lapeju, bem no coração da Frei Caneca. O imóvel antigo era pequeno, mas estava lotado de pessoas. A música era muito boa e para todos os gostos. E o público também, nota 10.

Curtimos bastante, além do preço da bebida ser bem barata para os padrões paulistanos. No momento em que a festa rolava forte, a mesma foi imediatamente interrompida pelos organizadores. Não entendi nada. Muito menos quem estava no local. Com o espírito de jornalista embutido, resolvi ir atrás dos fatos. Descobri que os fiscais da Prefeitura de São Paulo haviam fechado o lugar.

O motivo dessa iniciativa é a tão conhecida lei do Psiu. Com base nela, os fiscais monitoram o ruído dos estabelecimentos após a 1 hora com base nas denúncias de moradores. Quando o barulho ultrapassa o nível permitido, eles aplicam multas e até fazem interdições. Nesse caso, o problema aconteceu devido aos frequentadores falarem muito alto porque saíam para fumar. Esse procedimento se tornou comum com a entrada em vigor da lei antifumo.

Com o fim da festa, o grupo foi obrigado a ir embora atrás de uma nova festa. Assim, percorremos a pé a rua Augusta, onde há uma grande concentração de baladas alternativas e de prostíbulos. Como havia mulheres entre nós parte dessas baladas foi descartada. Onde entrar? Então, escolhemos a danceteria Vegas, bastante conhecida em São Paulo. Isso era entre 4h30 e 5 horas. Nossa Senhora!

Desta forma, ficamos por mais de duas horas nessa última curtição. O lugar é bem legal, afinal eu tinha curiosidade de conhecer essa danceteria há muito tempo. Precisava ser sem planejamento mesmo. O grande problema nessa ocasião era o horário. Nós quatro tínhamos ultrapassado a barreira das 6 horas. Eu precisava descansar porque precisava entrar às 10 horas no plantão do jornal.

O jeito foi embora para dormir um pouco. Antes disso, parei para comer no bar Estadão junto com uma das amigas do grupo. É aquela tradicional larica do fim de balada. Consegui me alimentar para passar um pouco o efeito do álcool. Não estava bêbado, mas tinha um plantão pela frente. Foi o encerramento dessa grande epopéia paulistana. Depois disso, fui dormir apenas duas horas de sono. Acordei bem cansado, mas feliz porque a noite foi muito além do planejado. Se tivesse feito isso, com certeza não teria mais essa história para contar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A parte ruim da profissão

Mais um domingo de sol e com temperaturas amenas para um inverno. Ou seja, um dia bem propício para fazer um belo passeio com a família ou namorada e com o animal de estimação. Assim, fui para a rua em meio a esse maravilhoso cenário para dar uma volta de carro. Porém, a saída era da redação do jornal com o veículo da empresa em direção a mais uma pauta que pintou em meio ao plantão do último final de semana.

No nosso roteiro de passeio, digo de trabalho, era Guaianazes que fica na extrema Zona Leste de São Paulo. Eu e o motorista Eduardo levamos quase uma hora para chegar ao bairro com um objetivo nada agradável. Na verdade, vou mais além. A chefia da equipe de plantão me deu a missão que considero uma das partes mais ingratas da profissão porque significa lidar com o sofrimento alheio.

É muito ruim estar nessa condição de entrevistar a família de um taxista assassinado com dois tiros - um no peito e outro na perna - por um passageiro durante uma corrida. O acusado levou a carteira dele, mas não se sabe se de fato foi um latrocínio (roubo seguido de homicídio) ou se o autor dos disparos tinha a pretensão de matar a vítima.

Apesar da dúvida, a pior parte ficou comigo na hora de apurar a história. Como é complicado abordar os parentes num momento tão doloroso por ter perdido um ente querido. Mas isso não é uma reclamação do meu serviço.

Tecnicamente, eu consigo fazer tudo isso devido à experiência adquirida aos longos dos meus 15 anos nessa luta. Mas às vezes, eu me pergunto. Será que deixei de ser jornalista ou fiquei mais humano depois de sofrer o acidente de carro ao sentir um aperto na hora de conversar com o filho do taxista?

Afinal, eu percebi o sofrimento estampado no rosto dele. E a situação piorava quando chegavam os amigos e o abraçavam. Presenciei o choro dele por algumas vezes. Dava uma sensação de impotência por não poder fazer nada.

A minha sorte foi ter contado com a colaboração do rapaz, que contou os detalhes de como a família estava naquele momento tão ruim. Também precisei utilizar todo meu cuidado na hora de fazer as perguntas. Queria me esforçar em não tocar ainda mais numa ferida aberta nele em razão desse crime tão brutal.

Ao deixá-lo a vontade, o filho contou muitos detalhes interessantes, como o perfil calmo do seu pai, que sempre orientava a família a nunca reagir a um assalto. Além disso, ele revelou que havia pedido para a vítima não ir trabalhar naquela noite para terminar de assistir a um filme.

Ele também mostrou algumas situações não mostradas no jornal em virtude da tradicional falta de espaço. A mais tocante foi a de que o taxista acompanhava todos os passos do tratamento da esposa dele, que tinha problemas no pulmão. Às vezes, ele deixava de trabalhar para poder levá-la ao hospital. Por causa da saúde debilitada, ela precisou ser levada a uma unidade médica para ser sedada e depois sim receber a notícia.

Com a bela história na mão, o jeito foi enfrentar novamente o caminho de volta ao jornal. Deu uma preguiça, pois estava mais perto de casa. Afinal, o velório onde fui fica bem na divisa com Ferraz de Vasconcelos. Levaria apenas 15 minutos dessa cidade até Suzano. Mas precisava retornar ao jornal.

No carro, cheguei a uma resposta. O fato de não mais fazer reportagens policiais com muita frequência talvez tenha me deixado mais emotivo. Por outro lado, também veio o sentimento mais importante em meio a toda essa história: fui novamente tomado pela sensação de ter cumprido mais essa missão confiada a mim.

sábado, 1 de agosto de 2009

Sou um cara de pau?

Nos últimos dias, me recordei de muitas histórias em comum. A semelhança entre elas era justamente por um motivo. Em todas essas situações lembradas por mim nas últimas semanas, fui chamado pelas pessoas próximas de uma forma que estou muito longe de ser, de acordo com a minha própria opinião, claro. Por causa disso, eu pensei seriamente sobre o grande dilema na minha cabeça. Assim, lanço a seguinte questão: sou um cara de pau?

Pelo menos nessas ocasiões agora relatadas, o pessoal falou que sim. Uma delas aconteceu em 2004 quando havia voltado a morar com a família após o meu retorno de São José dos Campos. O meu pai tinha um óculos modelo ray ban tradicional guardado na gaveta. Ele não o usava porque já tinha um igual. É muito lindo e foi presente do meu tio Pedro, diretamente do Japão.

Então, comecei a observar durante alguns meses e percebi que o meu pai jamais o usaria. Por isso, cheguei e perguntei: "Pai, você usa aquele óculos que o tio te deu?". A resposta foi imediata: "Não. Quer para você?" Era tudo que eu queria ouvir. Faturei o tão sonhado Ray Ban.

Agora sim, chegarei ao ponto. Ao me ver com os óculos, o meu irmão ficou surpreso e perguntou se o meu pai sabia daquilo. Falei que havia ganhado dele. A reação foi de espanto e, sem hesitar, ele me perguntou: "Como você conseguiu?" Disse que apenas questionei o pai se ele usava o Ray Ban. Aí veio a frase: "Você é um cara de pau mesmo."

O grande detalhe para o irmão ter soltado o bordão é justificável. Ele também estava de olho no mesmo óculos, mas não teve a mesma coragem de perguntar. Não tenho culpa se fui mais rápido, não é mesmo?

A outra situação foi em 2005, quando ainda trabalhava no Diário do Grande ABC. Como todos os jornalistas da mídia impressa sabem, sexta-feira é dia de "pescoção". Para quem não sabe, esse termo significa trabalho dobrado nesse dia da semana para preparar as edições de domingo e de segunda-feira de um jornal. Desta forma, os profissionais ficam até as primeiras horas da madrugada no batente.

Em meio a essa situação, estava na redação com vontade de ir embora, afinal eu já havia terminado todo o serviço. Porém, os editores demoravam para liberar a nossa saída. Assim, fui perguntar aos dois chefes daquela época. Primeiro, fiz isso com o Fausto Siqueira (hoje no portal G1) e ele me respondeu que poderia ir embora.

Por outro lado, o outro editor da equipe, Marcelo Moreira (atual Jornal da Tarde), reagiu negativamente: "Por que você quer ir embora, pois é dia de pescoção?" Veio uma resposta imediata na minha boca: "Ué, quem vai segurar o bar aberto para a gente poder tomar aquela gelada depois?"

Depois da minha fala, os risos foram inevitáveis entre os demais profissionais da equipe. Devido à reação de todos, o Marcelo soltou aquela frase: "Você é um cara de pau mesmo." Não deu dois minutos e ele me liberou sob a condição de ir ao bar. Cumpri a promessa. Após essa situação, esse próprio editor vinha e me falava para ir embora com o pretexto de manter o bar ao lado do jornal aberto. Virou lenda naquela empresa.

Se a gente for mais adiante ao túnel do tempo, chegaremos em 1996. Durante uma rebelião na Cadeia Pública de Mogi das Cruzes, os policiais se reuniram próximo ao portão do presídio, mas do lado de dentro para ficar longe dos olhos da imprensa local. Como eu conhecia as dependências, corri para dentro da delegacia existente ao lado e entrar na sala dos investigadores, onde a janela ficava bem próximo ao local dessa reunião.

O objetivo era ouvir os planos da polícia sobre uma possível invasão da cadeia para acabar com o motim. Consegui escutar apenas um minuto da conversa. Só obtive alguns detalhes, de que começariam com gás pimenta nos detentos. Infelizmente não consegui o plano completo porque um investigador chegou na sala. Sem hesitar, me questionou: "O que você faz aí?"

A resposta não foi convincente: "Queria um lugar mais tranquilo em meio a essa agitação." Em seguida, esse mesmo policial mandou eu sair e ainda me acompanhou até a rua. Ao final, veio mais uma vez aquela frase: "Você é um cara de pau mesmo."

Por essas e outras eu me pergunto. Sou um cara de pau, mesmo? Na minha opinião, poderia estar numa condição profissional melhor ou ter arrematado muitas mulheres na vida apenas por curtição ou ainda conseguir situações com benefícios próprios. Se realmente fosse isso, não levaria a minha vida tão normal como ela é.

Mas pelo menos essas histórias são inusitadas e me divertem quando eu me lembro delas. O jeito é contar essas papagaiadas para os amigos ou parentes como forma de compartilhar os momentos cômicos e arrancar deles um monte de hahahahahahaha.