segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vendas em alta e demissões

Mais uma semana começou. E essa será mais curta porque tem um feriado estadual pela frente, na próxima quinta-feira. Eu a iniciei muito bem, afinal deixei um pouco o ambiente da redação para acompanhar um dos setores que mais gosto de fazer reportagens. Além disso, trata-se do segmento com um grande volume de matérias, pois as vendas de veículos bombaram na reta final do segundo semestre e, principalmente, em junho por conta da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no preço dos carros.

Foi a primeira vez que fui cobrir o anúncio do desempenho da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) desde quando voltei a batente após o acidente. É totalmente verídico o fato das montadoras de automóveis terem batido recordes históricos de vendas na primeira metade do ano e no mês passado. Afinal, as concessionárias do país negociaram 1,45 milhão de unidades no período, destes cerca de 300 mil só em junho. Os consumidores realmente decidiram aproveitar os descontos oferecidos com a retirada da cobrança do IPI nos automóveis.

Mas um fato me chamou a atenção quando tive acesso ao balanço mensal da Anfavea. O desempenho das empresas quanto às vendas foi muito bem, obrigado. Não tenho como contestar, os números não mentem. Pensei até em escrever o meu texto no jornal com esse enfoque habitual. Por outro lado, percebi algo estranho nas estatísticas. Apesar desse ótimo resultado, as empresas do setor haviam demitido funcionários nos seis primeiros meses do ano.

Espera aí. A parte esquisita da história estava exatamente nesses cortes. As indústrias fecharam 7.300 empregos no ramo. Apesar de ficar afastado durante minha recuperação, acompanhei o noticiário. Então, sabia que a prorrogação do IPI reduzido estava condicionado à garantia do nível de postos de trabalho. Então, por que houve dispensas? O jeito foi questionar o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, em meio às comemorações do recorde em vendas.

Logo após a entrevista na bancada, o comandante da entidade explicou porque isso aconteceu, mesmo com esse acordo fechado com o governo federal. O acerto deixava de fora a adoção de Programas de Demissões Voluntárias, o conhecido PDV, a não-renovação dos contratos por tempo determinado e o desligamento de aposentados ainda em atividade. Agora entendi a equação aplicada pelas montadoras.

Havia desconfiado dos parâmetros desse consenso para estender a diminuição desse produto quando isso ocorreu pela primeira vez, no final de março. Afinal, a indústria automobilística jamais sairia em desvantagem. Na prática, isso só vale para demissões sem justa causa. Ou seja, é a única das alternativas possíveis que as montadoras não podem aplicar para cortar trabalhadores. Muito bem. Essa compreensão veio com mais de três meses de atraso. Só consegui após o meu retorno ao trabalho.

A justificativa oficial é de que a redução dos empregos veio com a queda da produção de veículos aqui no Brasil motivada pelas exportações menores e o baixo volume de vendas de caminhões e ônibus. Desta forma, as empresas desse ramo mantêm programas de desligamentos voluntários. Estão nessa lista a Scania e a Mercedes-Benz. E a Volkswagen negocia a mesma medida para a área administrativa, apesar da contratação de 310 funcionários (200 em São Bernardo do Campo e 110 em Taubaté). É o tal modelo de compensação.

Bom, o jeito é manter a imparcialidade. Os consumidores que aproveitaram o IPI reduzido têm muitos motivos para festejar, pois muitos pegaram descontos de até R$ 3 mil no preço final do veículo novo. O lado ruim foi pago por quem perdeu o emprego na indústria automobilística como forma de equilibrar a balança das montadoras.

E termino aqui a tentativa de ser um comentarista. Só espero não ter sido tão chato, mas não podia ignorar o contexto já que sou repórter de economia.

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