Consegui um feito inédito na semana passada, em meio a esses 15 anos de profissão. Desde quando ingressei no jornalismo, jamais tinha passado por essa situação muito inusitada. Afinal de contas, já presenciei rebeliões, tiroteios, conversei com muitas autoridades, esportistas e até celebridades para fazer as tradicionais reportagens. Porém, a minha tamanha experiência foi colocada a prova mais uma vez, na hora em que precisei entrevistar um morto.
Isso mesmo. Na última sexta-feira, fiz uma entrevista com um morto. Neste caso, era o desempregado Rubens da Rocha Evangelista, de 37 anos. Ao saber dessa matéria, eu pensei. Será que terei a tranquilidade de falar com uma pessoa falecida? O jeito foi manter a serenidade, pois era a minha primeira vez nessa situação.
E a entrevista, onde foi feita? Num centro espírita, ou numa mesa branca? Nada disso. Foi pessoalmente. Nada de sobrenatural. Conversei diretamente com o morto. Por outro lado, ele parecia estar bem vivo. Na verdade, esse rapaz só queria receber o seu seguro-desemprego para sobreviver. Mas oras bolas, ele não faleceu?
A resposta para essa pergunta é sim. Pelo menos, para o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), seu Rubens havia deixado esse mundo em 4 de abril deste ano. Por esse motivo, ele teve o pedido de seguro-desemprego cancelado pelo Ministério do Trabalho. Assim, ele realmente vai morrer, mas de fome.
Esse cadastro é utilizado como base de dados pelo Ministério do Trabalho, INSS e Caixa Econômica Federal para conceder benefícios. Mas como ele passou a constar como morto? Por causa da matéria, fui buscar informações. O INSS informou que uma empresa onde seu Rubens trabalhou mandou a informação de que a rescisão de contrato havia ocorrido devido ao motivo de falecimento. Pode?
Por esse motivo, Rubens conseguiu me convencer que estava vivo e muito bem de saúde, apesar de ter perdido o emprego. Mostrou todos os seus documentos e provas que apontavam sua morte. Só fica uma dúvida. Como ele não conseguiu convencer os órgãos públicos envolvidos se ele apareceu corpo presente a todos esses locais. Talvez acharam que fosse um fantasma para assombrar.
Ao conversar com o seu Rubens, eu não tive nenhuma impressão como essa. Só percebi que ele é calmo até demais e cheio de saúde. Nada semelhante a um fantasma ou uma pessoa morta. Fica aí registrada mais uma experiência na vida profissional.
A seguir, a reportagem sobre o morto na edição da última sexta-feira:
segunda-feira, 8 de junho de 2009
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