domingo, 2 de maio de 2010

Trabalho no Dia do Trabalho

Não poderia ser diferente. Depois de ficar afastado do trabalho no ano passado em meio à data por causa do acidente, dificilmente eu escaparia mais uma vez do plantão. Não era o meu final de semana de trabalho na escala das equipes que se revezam aos sábados e domingos. Porém, o dia primeiro de maio caiu bem no sábado. Devido a esse motivo, fui convocado para reforçar os quadros da redação e cobrir as festas organizadas pelas centrais sindicais em comemoração a essa ocasião. O trocadilho cairá bem agora. Realmente foi muito trabalho no Dia do Trabalho.

Bom, eu não fui o único da equipe a ser chamado para atuar nas festividades da data. Outros três jornalistas da editoria de economia compareceram à convocação extra. Em três coberturas desta natureza, foi a terceira vez que a chefia me escalou para acompanhar o evento organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT).

A escolha delas foi bem interessante para mim. Afinal, a central sindical organizou um formato diferente para a Festa do Trabalhador, no Memorial da América Latina. Em vez daquele tradicional show com vários cantores, a entidade optou por priorizar o aspecto cultural. Promoveu como tema a união dos países latino americano. De quebra, houve apresentação de cantores, músicos e grupos de renome.

Apesar de estar a serviço, consegui assistir parte dos shows de artistas muito conhecidos e respeitados pelo público. Nesta relação, estão os cantores Carlinhos Brown, o maestro João Carlos Martins, o grupo Raíces de América, o cubano Fernando Ferrer e Milton Nascimento. Esse último, que bela voz. Tanto ele quanto os demais cantaram ao vivo, sem o tradicional playback. Quando conseguiria ser espectador de uma reunião de artistas como essa de graça?

Fora isso, talvez tenha ganhado dois ou três quilos só de passar várias vezes na feira gastronômica montada na área da festa. Cada vez que ia àquela direção, eu comprava as empanadas chilenas. Comi um monte delas. Até perdi a conta. O jeito é começar a semana com treinos mais intensos na natação e na musculação para perder todas as calorias delas. Mas estavam uma delícia. Ai que remorso!

Porém, nem tudo foi felicidade na cobertura dessa festa. A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à festa causou momentos de confusão. A equipe responsável pela segurança da autoridade máxima do país fez os jornalistas saírem por diversas vezes da área reservada exclusivamente para esses profissionais cobrirem o evento. Mesmo quem estava devidamente credenciado, como eu, se sujeitou ao forte aparato. Haja paciência. Os demais repórteres reclamaram muito sobre essa situação. Isso desgasta.

Por outro lado, a imprensa em geral estava bem atenta ao conteúdo do discurso do presidente. Afinal, estamos em ano eleitoral onde todos trabalham para eleger seus respectivos candidatos. Além disso, Lula tem o apoio de todas as centrais sindicais em favor da sua pré-candidata, Dilma Roussef. Fica feio se ele não aparecesse na festa. Desta forma, ele compareceu aos eventos de todas as centrais, numa verdadeira maratona em pleno Dia do Trabalho.

Na CUT, fez os habituais trocadilhos e as tradicionais metáforas contidas na sua fala. Como sempre, levou todos os espectadores aos risos. Disse que deveria tomar cuidado, pois o ego engorda e, por isso, precisaria até trocar as calças, numa brincadeira em relação à citação da revista americana Times, de que Lula é um dos homens mais influentes do mundo.

E também brincou com a situação de não mais pedir votos abertamente para Dilma nos eventos populares. "Dilma, eu não posso falar. A Justiça me proíbe fazer isso", destacou Lula. A estratégia foi adotada após uma enxurrada de representações encaminhadas pelos partidos de oposição, que alegam uso de poder político - a condição de presidente - em favor de uma concorrente. A atitude dele levou os sindicalistas ao delírio.

Mas as pessoas que compareceram a esse evento também presenciaram o momento de emoção do presidente. Ao falar sobre seu futuro depois de deixar a presidência, Lula chorou no palco ao se emocionar quando se referiu sobre sua sensação de dever cumprido. Mencionou sobre a futura possibilidade de poder agradecer a cada "companheiro" quando voltar a morar em São Bernardo do Campo após o final do segundo mandato. Como isso rendeu para os fotógrafos e cinegrafistas de plantão. Imagem do dia e talvez a da semana garantida.

Mas após o discurso do presidente no final do ato político da festa, o cerimonial organizou um esquema para Lula conceder uma entrevista coletiva. Puro jogo de cena. O presidente foi embora sem falar com a imprensa. Seria o excesso de emoção por conta do tom da sua fala? Acho que não, pois a mesma coisa aconteceu nos eventos das outras centrais sindicais. Poxa senhor presidente, a gente sempre prestigia o senhor. Bem que poderia ter dado uma palavra.

Outro ponto interessante foi o fato de o evento atrair pessoas de outros países. Na hora de entrevistar os espectadores para saber o que acharam da festa, vários deles vieram de fora, atraídos pelo aspecto cultural. Conversei com um engenheiro francês, com um apetitoso prato de comida típica. Só esqueci de perguntar qual tinha sido sua escolha.

Além disso, abordei duas estudantes americanas, que dançavam de forma muito animada ao som da típica musica cubana, cantada por Fernando Ferrer. E ainda, encontrei uma brasileira descendente de chilenos no evento. Muito legal, pois nunca havia passado por uma experiência como essa nas coberturas da Festa do Trabalhador.

Assim, o trabalho em pleno Dia do Trabalho voltou a trazer o espírito de dever cumprido porque abordei aspectos diferentes ocorridos no evento de uma só vez. Só espero ter alcançado o objetivo de transmitir com precisão todos os passos do que presenciei. E aqui eu arremato com os bastidores, dificilmente mostrados nos jornais. Agora sim, a cobertura está totalmente completa.

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