terça-feira, 5 de outubro de 2010

A vez da minha despedida

Como todos já sabem, não faço mais parte da redação do Diário de São Paulo. O jornal passou por reformulações e uma série de mudanças, desde a compra por um novo dono, chefia da redação e alterações no conteúdo desse centenário matutino. Coisas naturais dessa profissão chamada jornalismo.

Enfim, é uma área em que precisamos estar sempre preparados para constantes modificações. Afinal, se trata de um processo muito dinâmico e também subjetivo. Sem fazer médias, foi muito bom enquanto durou. Aliás, falo isso de coração pois foi a casa onde mais permaneci nesses 16 anos de percurso e escalada de cada degrau. Um para cima ou um para trás para depois fazer isso mais duas vezes para o alto.

O tamanho carinho com a instituição chamada Diário de São Paulo ocorre porque foi essa marca que me ajudou a projetar para a grande imprensa em boas pautas de economia e coberturas importantes fora da minha especialidade durante os plantões de final de semana ou acontecimentos. Nesta relação, destacam-se o acidente da TAM de 2007, as eleições de 2008, o Caso Eloá (2008) e o pisoteamento na Festa do Peão de Jaguariuna (2009). Em algumas histórias, tive a honra e o prazer de garantir a manchete.

No aspecto pessoal, a passagem nesse matutino também foi marcada pela fase mais difícil da minha vida. Todos sabem do meu grave acidente de carro. Nessa ocasião, precisei me fortalecer, me recuperar e recomeçar. Aí entraram os amigos que trabalhavam comigo. Eles me apoiaram demais com uma simples ligação e até visitas. Confesso: esse auxílio chegou de pessoas que nunca esperava lá de dentro.

Logo após a minha saída, decidi deixar um texto de despedida em homenagem e agradecimento aos companheiros que ficaram e me acolheram. Também foi uma forma de mostrar a gratidão pela marca Diário de São Paulo. Mudanças no comando e no processo sempre acontecem. As opções não dependem de mim. E um bom profissional que tento sempre ser deve ter a cabeça e o coração abertos para tudo.

Por essas e outras, também resolvi tornar pública a minha carta de despedida. Minha intenção foi ser eu mesmo. Sempre sincero e de coração aberto, como todos sabem. Nada mais. Contém alguns deslizes, como repetições de palavras. Porém, valeu a intenção. Quem quiser conferir:

"Dia 29 de janeiro de 2007. Um rapaz não muito jovem desembarca numa redação, conhecida como Diário de São Paulo para reforçar uma área na qual gostava e havia aprendido a adorar porque mexia com o bolso e com as finanças dos brasileiros. Assim, chegava Eric Fujita na editoria de economia. Inicialmente, era para cobrir uma área até então importante e um dos carros-chefes do tão conceituado matutino: o setor de trabalho.

Para esse aprendiz de jornalista, era uma verdadeira honra, pois nessa parte do jornal já tinha passado vários repórteres conceituados no ramo. Ocupar o lugar do conhecido Vitor Nuzzi era uma responsabilidade. Mas aos poucos, conseguia avançar e obter bons resultados, como vários furos jornalísticos, excelentes reportagens e textos que emocionavam os leitores. Era muito bom.

Mas aos poucos e, com o passar do tempo, o jornal se modificou. Passou por várias reformulações em tão pouco tempo a ponto de se desconfigurar do robusto e saudoso Diário Popular. Aos poucos, a área que ele cobria com vontade se extinguiu. Continuou na editoria que ama cobrir em outros assuntos para aprender ainda mais. Mesmo assim, conseguiu trazer boas reportagens a ponto de conseguir elogios dos editores. Para isso, aos que ficam, não existe fórmula mágica. Como dizia um excelente ex-editor-chefe do Estado de São Paulo com quem esse mesmo Eric Fujita teve o prazer de trabalhar, o ingrediente principal é o coração.

Enfim, as mudanças continuaram até chegar ao atual Diário de São Paulo. Em meio às últimas alterações, veio um questionamento na cabeça desse mesmo rapaz. Será que ele não se adaptou? Ou ele manteve o seu caráter, honra e personalidade demais dentro dessa profissão, apesar do estresse e em alguns casos da baixa remuneração? Ele só sabe de uma coisa. Apesar disso tudo, a profissão ainda continua apaixonante para quem ainda é idealista. Por esse motivo, sempre defendeu com unhas e dentes seus posicionamentos e os companheiros ao seu lado. Os demais estão de prova.

Em meio a esse dilema, esse Eric Fujita encerra esse ciclo aqui nesse já mudado e diferente Diário de São Paulo nesse exato dia 21 de setembro de 2010, após três anos e oito meses de dedicação, discussões acaloradas de pautas e brigas para conseguir a melhor informação. Alguns editores não irão admitir isso hoje, mas tudo bem. O importante é que o tal jornalista parte com a consciência tranquila de ter feito um bom trabalho enquanto esteve na sua mesa cheia de bagunças com anotações.

Assim, o mesmo profissional se despede mais feliz, aliviado e com as energias renovadas. Também deseja boa sorte para quem fica e no que puder ajudar. Sempre estará disponível na área, não importa a hora, o motivo e a pauta.

A despedida foi em terceira pessoa para ficar mais impessoal e fácil em relação aos amigos e amigas mais próximos que o rapaz fez durante esse tempo. Afinal, as transformações não tiraram o amor pela boa escrita, coisa difícil hoje em dia.

Eric Fujita
21-09-2010"

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