segunda-feira, 15 de março de 2010

Sensação de dever cumprido

Entrei mais cedo por ter sido escalado para cobrir, mais uma vez, a visita do ministro do Trabalho a São Paulo. Como manda o figurino, acompanhei todos os passos do evento que contou com a presença de Carlos Lupi. Era um anúncio importante, pois o governo federal mostrava o novo sistema de prorrogação do contrato temporário para mais seis meses, a ser usado pelas empresas. A meta desse mecanismo é reduzir o tempo de espera para apenas dois dias, contra os 45 hoje.

Então, o jeito foi assistir ao evento todo, afinal as autoridades só concedem a tradicional entrevista coletiva após o término dessas atividades. O ministro discursou ao público presente e os representantes das entidades que representam os empresários e empregados também fizeram o mesmo. Sempre é assim.

Fora o assunto do evento, eu tinha outros tópicos para abordar com Lupi. Trata-se da luta para conseguir uma boa reportagem e ir mais além do que era abordado naquele ambiente, um almoço organizado no Circolo Italiano, na capital paulista. Porém, não precisei fazer muito esforço por um único e simples motivo. Uma reportagem feita por mim um dia antes repercutiu junto ao ministro.

Isso mesmo. Minutos antes da entrevista coletiva, um grupo de motoboys foi cobrar a liberação do financiamento especial destinado à categoria. A linha de crédito especial criada para o setor não tinha saído do papel devido a um impasse na Caixa Econômica Federal, responsável pela operação desse sistema. O banco tem dificuldades de encontrar uma empresa disposta a fazer o seguro das motocicletas vendidas, sob alegação dessa profissão ser de alto risco.

Pois bem, todo esse imbróglio foi relatada numa matéria que fiz. Os diretores do Sindicato dos Motoboys entregaram o jornal com a minha reportagem diretamente ao ministro. Ou seja, tinha mais um assunto para perguntar a Lupi, que abriu a página e leu o texto. Desta forma, meu objetivo de o fato repercutir amplamente foi alcançado.

Assim, me restou perguntar a Lupi que ele poderia fazer para resolver o caso. Questionado, prometeu cobrar agilidade junto à Caixa Econômica Federal para resolver o problema. Além disso, revelou a existência de uma negociação para criar um fundo especial, responsável por captar recursos como forma de garantir o seguro das motocicletas compradas por meio desse crédito.

Ainda no meio da entrevista, o ministro me perguntou: "Essa reportagem é sua?" Imediatamente, respondi positivamente. Em seguida, Lupi ressaltou que faria uma leitura mais minuciosa dentro do avião. Só não sei se ele realmente fez isso ou apenas se tratava daquela tradicional média. Jamais saberei a resposta.

Mesmo assim, eu fiquei contente com a reação dele e a forma que a minha reportagem chamou a atenção no segmento e no governo. Presenciei pessoalmente a meta principal dos profissionais da minha área, a de repercutir uma descoberta junto à sociedade e às autoridades. A minha sensação foi de pleno dever cumprido.

Afinal, isso permanece no bom e velho manual de jornalismo. Mostrar um problema, relatar todos os seus passos e, se possível, contar o resultado das nossas constantes cobranças. Pelo menos, ainda continuo no aspecto verdade, sem criar ou ser totalmente sensacionalista.

Depois de 16 anos de caminhada nesse ramo, às vezes, ainda sinto orgulho quando faço um trabalho bem feito. Ainda acho que seguir os meus princípios é o meu melhor caminho, mesmo nos momentos de sensação de nadar contra a maré. É sinal de não deixar me influenciar e manter o meu caráter dentro dessa profissão. Ainda bem.

Um comentário:

Z! disse...

Fujita! Parabéns pela reportagem! vc é esse profissional raro que tem consciência da sua profissão e do exercício da sua função. O grande profissional é aquele que visa a preservação da sua profissão e não apenas ou em primeiro plano aquele que pensa somente e nada mais que isso, em subir as escadas do poder sem vistas. Parabéns mais uma vez!