Mais uma vez, o jornal me escalou na última quarta-feira (17-03) para mais uma cobertura no Palácio dos Bandeirantes. Desta vez, a justificativa para o evento foi o lançamento de mais 60 mil vagas para um curso de capacitação do governo do estado, destinado a desempregados carentes. Quem participa das aulas também recebe uma ajuda de custo de R$ 210. No entanto, percebi no ar um clima, digamos, de festa muito além da conta.
Aí, caiu a ficha (ainda sou dos tempos dos antigos orelhões do Sistema Telebrás). Afinal, estamos a menos de um mês dos anúncios oficiais de candidaturas e da desincompatibilização dos cargos por parte dos interessados em concorrer as próxima eleições. Claro, a grande solenidade tinha justificativa. Por esse motivo, todos os veículos de comunicação estavam lá, inclusive eu.
No meu caso, o assunto pautado era realmente sobre os cursos, pois fui o primeiro a dar essa notícia com exclusividade. No entanto, o espírito de repórter que ainda sobrou em mim foi responsável por afinar a sintonia. Além do assunto em questão no evento, comecei a prestar mais atenção no ambiente e nos bastidores.
Como sempre ocorre, a solenidade de anúncio começou com atraso de uma hora. Desta vez, algo mais além: sem a presença do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que chegou atrasado no próprio local de trabalho. Ao ver a bancada completa, meu raciocínio trabalhou rapidamente.
Mesmo sem anúncios oficiais até então, a chapa para disputar as próximas eleições estava quase completa: Serra, o secretário de Desenvolvimento e ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos (DEM). Respectivamente, pré-candidatos a presidente, a governador e vice-governador. Aliás, há muito tempo eu não os via juntos, um do lado do outro. Foi inevitável não pensar assim.
Agora, explico os motivos. Em relação ao Serra, não preciso apresentar muitos motivos pois ele já assumiu como governador com esse interesse de disputar para comandar o outro Palácio, o do Planalto. No caso de Alckmin, as pesquisas internas feitas a pedido do PSDB apontam o ex-governador como favorito a voltar a comando do Palácio dos Bandeirantes. Além disso, o partido não vai se arriscar a perder o comando do estado mais importante da Federação, tanto no contexto político quanto econômico.
Já Afif deve mesmo sair como vice eventualmente como Alckmin porque precisou abrir mão da candidatura a senador em favor do também ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Nesse caso, o motivo foi o acordo articulado por Serra e fechado em 2008 para garantir apoio do PMDB em favor do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).
Desta forma, sobrou para Afif a vaga de candidato a vice. Por enquanto, tudo está desenhado assim. Mas como a política também é uma caixinha de surpresas, tudo pode mudar.
De volta ao evento, o jeito foi também ficar atento a esse ambiente todo. Na plateia, muitas autoridades, deputados aliados e a gente de olho em tudo. Apesar de ficar no foco das vagas dos cursos que é assunto da minha editoria, de economia, também me transformei num esporádico repórter de política (na minha opinião, minha segunda área de atuação).
Na entrevista coletiva com o governador, perguntei sobre os cursos, obviamente. Em seguida, uma outra repórter questionou quando Serra assumiria a condição de pré-candidato. Como acontece até agora, ele desconversou. Foi a minha hora de testar se conseguiria atuar nas eleições, ao abordá-lo sobre o crescimento da pré-candidata e ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, nas pesquisas de opinião pública.
A última consulta feita pelo Ibope a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que a concorrente governista cresceu cinco pontos percentuais e estava com 30% das intenções. Serra contava com 35% na mesma análise. Então, o governador disse que não costuma comentar pesquisas, mesmo quando o resultado seja favorável. Depois, foi embora.
Já Afif confirmou que deixará a secretaria no início de abril para sair candidato, em entrevista depois da solenidade. Porém, não adiantou para qual cargo. Nos bastidores, é dada como certa a candidatura dele a vice-governador, dentro do acordo fechado. Alckmin nada falou no evento. Só faltou saber quem será o vice de Serra. Mas isso só ocorrerá nos próximos dias.
Entre essas e outras, percebi que o contexto todo do evento serviu para eu aquecer as turbinas, caso fique na cobertura das eleições. Além disso, deixou em mim a vontade ainda maior de atuar nessa corrida eleitoral. Afinal, a disputa promete muitas surpresas. O jeito é esperar para ver quais serão as cenas do próximo capítulo.
domingo, 21 de março de 2010
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