quarta-feira, 31 de março de 2010

Uma aventura em Florianópolis

Decidi fazer uma viagem no tempo. Quem quiser embarcar nessa jornada, voltarei para o dia 11 de setembro de 2001. O motivo de escolher a data não foi o fato desse mesmo dia ter ocorrido os históricos e devastadores ataques terroristas às torres gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos. Aliás, esse acontecimento marcante também deixou todos apreensivos, inclusive os jornalistas de vários cantos do mundo. A tragédia ocorreu justamente no dia em que partiria em direção a Florianópolis, em Santa Catarina.

Esta seria a minha primeira longa incursão de carro. Curtiria as férias após o primeiro ano de árduo trabalho no jornal ValeParaibano, de São José dos Campos. Para essa aventura, contaria com as companhias do grande amigo Aurélio Moreira e Pedro Ivo Prates. Naquela época, nós trabalhávamos juntos nesse matutino. A viagem já tinha sido planeada três meses antes.

Desse trio, apenas Pedro Ivo continua no ValeParaibano. Hoje, ele é editor de fotografia. Já Aurélio está na assessoria de imprensa da Prefeitura de São José dos Campos. Bom, retornarei no tempo. Tudo estava programado para o grupo sair cedo. No entanto, a curiosidade jornalística falou mais alto. O jeito foi adiar a saída por algumas horas como forma de acompanhar o noticiário.

Bom, decidimos sair em direção ao nosso destino escolhido. Para essa grande viagem, contamos com o enorme apoio do seu Mário, o pai do Aurélio. Afinal, ele emprestou o carro usado nessa jornada, um confortável Vectra azul. Os gastos com combustível e possíveis danos ficaram sob nossa inteira responsabilidade. Era o mínimo que poderíamos fazer.

Começamos a nossa caminhada de 805 quilômetros que separavam São José dos Campos de Florianópolis. O percurso seria dividido entre Aurélio e eu. O Pedro Ivo só iria de carona por não ter tanta experiência no volante. A primeira e a parte mais desgastante do percurso ficou por conta do Aurélio.

Ele simplesmente pegou o pior trajeto. Conduziu o Vectra na Dutra, enfrentou congestionamentos na Marginal do Tietê e em outras ruas da capital. De quebra, guiou todo o trecho da temida Regis Bittencourt. Foi difícil. Para mim, restou o trecho entre Curitiba e Florianópolis, cuja pista era mais conservada. No entanto, enfrentei sozinho a noite e madrugada, já que os dois dormiram.

Na capital paranaense, resolvemos fazer a única pausa para descansar e nos alimentar. Escolhemos uma churrascaria muito boa. Comemos muito. Também fizemos amizade com a gerência a ponto de garantir o nosso retorno quando a gente tivesse no caminho de volta para casa. E cumprimos a nossa promessa.

Mesmo ofuscada pelos ataques terroristas, nossa viagem de carro foi emocionante. Nos cansamos muito. Enfrentamos congestionamentos, tempo ruim e até frio no trecho próximo à divisa entre São Paulo e Paraná. Foi o preço que pagamos para ter a nossa independência de locomoção na capital catarinense. Valeu a pena.

Além disso, as companhias de Aurélio e Pedro Ivo arremataram o clima de alegria nessa nossa aventura. Para resistir ao cansaço, tomamos todas as medidas possíveis e impossíveis. Eu bebi muito café para me manter acordado.

Já o Aurélio escolheu cuidadosamente na internet, as trilhas sonoras que iriam nos incentivar a seguir viagem. Para a ocasião, ele selecionou músicas das bandas Limp Bizkit e a até então desconhecida Linkin Park entre os brasileiros.

Ao chegarmos a Florianópolis, comemoramos muito. Era de madrugada e a partir de então vi como esse município é realmente lindo. A incursão serviu ainda mais para estreitar a amizade com os dois companheiros a bordo. Ainda bem.

Para mostrar ainda mais e relembrar esse momento histórico, trouxe as músicas que tocavam no carro durante essa viagem. Vale a pena ver o filme. As trilhas sonoras refletem o espírito de aventura que tomou conta de todos nós. Tenho muitas saudades desses tempos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A descoberta de um leitor

Como sempre, acordei bem cedo para ir à academia e fazer o habitual treino. No entanto, algo chato aconteceu para começar o dia mal. Não conseguia ligar o carro. Tentei algumas vezes, mas nada certo. Então, o jeito foi buscar ajuda. Meu pai foi buscar uma outra bateria num mecânico amigo da família para o veículo funcionar.

A missão teve êxito. Conseguimos ligar o automóvel e fazer uma espécie de troca. Tiramos a bateria emprestada com o carro em funcionamento e colocamos a outra com problema. Esse procedimento fez com que essa última se carregasse momentaneamente. Assim, fui devolver o material emprestado ao amigo.

Em seguida, fui imediatamente levar o carro para avaliar a necessidade de colocar ou não uma bateria nova, já que a colocada no veículo estava ruim. Fui a uma loja especializada nesse artigo aqui em Suzano logo ainda pela manhã. Para isso, precisei sacrificar parte do meu treino diário.

Ao chegar ao estabelecimento, pedi para analisar a bateria do veículo. E o diagnóstico foi dentro do previsto. Precisava fazer a troca por uma nova. Desta forma, autorizei o serviço.

Mas toda a situação de transtorno começou a dar aquela reviravolta quando eu vi que havia um jornal no balcão. Pedi permissão para pegá-lo e ler a edição do dia. A partir daí, percebi se tratar do matutino onde trabalho. Aproveitei para analisar o conteúdo desse dia.

Por esse motivo, eu não me contive e perguntei ao dono da loja se ele comprava todo dia esse jornal. A resposta foi positiva. Em seguida, fiz algo conforme minha consciência determinou naquela hora. Agradeci o rapaz pela preferência dele pelo jornal.

Com isso, ele imediatamente questionou se trabalhava nesse matutino. Disse que sim. A fisionomia dele era de tamanho espanto e felicidade.

O motivo foi o fato dele nunca esperar um profissional do jornal que ele sempre compra no seu estabelecimento. Foram várias perguntas e me tornei um entrevistado. Numa delas, o rapaz queria saber qual reportagem havia feito. Mostrei a manchete da capa.

Além disso, percebi que em muitos casos o jornalista ganha a condição de um ser inacessível junto à população. Na verdade, chega a ser tratado como uma celebridade. Prova disso, o proprietário queria saber se costumava fazer coisas habituais do dia-a-dia e por que morava em Suzano.

Entre as minhas respostas, falei que eu era uma pessoa igual a todo mundo e faço diariamente tudo dentro de uma rotina normal, como ir a um supermercado, frequentar um shopping center e tudo mais. Foi o tempo suficiente para o rapaz terminar o serviço no carro, que custou R$ 185.

Ao pagar pelo trabalho, agradeci pelo serviço e também por comprar sempre o jornal onde trabalho. A reação dele foi recíproca. Fui embora mais contente, pois ter esse contato direto com o leitor me faz crescer profissionalmente. Afinal, os espectadores são nosso principal termômetro para saber se nosso serviço tem repercussão.

Pelo menos, penso assim. Além das fontes (informantes), eles precisam receber tratamento digno como parte do meu grande patrimônio profissional. Depois disso, até esqueci dos fatos desagradáveis ocorridos no início do dia.

domingo, 21 de março de 2010

De olho nas próximas eleições

Mais uma vez, o jornal me escalou na última quarta-feira (17-03) para mais uma cobertura no Palácio dos Bandeirantes. Desta vez, a justificativa para o evento foi o lançamento de mais 60 mil vagas para um curso de capacitação do governo do estado, destinado a desempregados carentes. Quem participa das aulas também recebe uma ajuda de custo de R$ 210. No entanto, percebi no ar um clima, digamos, de festa muito além da conta.

Aí, caiu a ficha (ainda sou dos tempos dos antigos orelhões do Sistema Telebrás). Afinal, estamos a menos de um mês dos anúncios oficiais de candidaturas e da desincompatibilização dos cargos por parte dos interessados em concorrer as próxima eleições. Claro, a grande solenidade tinha justificativa. Por esse motivo, todos os veículos de comunicação estavam lá, inclusive eu.

No meu caso, o assunto pautado era realmente sobre os cursos, pois fui o primeiro a dar essa notícia com exclusividade. No entanto, o espírito de repórter que ainda sobrou em mim foi responsável por afinar a sintonia. Além do assunto em questão no evento, comecei a prestar mais atenção no ambiente e nos bastidores.

Como sempre ocorre, a solenidade de anúncio começou com atraso de uma hora. Desta vez, algo mais além: sem a presença do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que chegou atrasado no próprio local de trabalho. Ao ver a bancada completa, meu raciocínio trabalhou rapidamente.

Mesmo sem anúncios oficiais até então, a chapa para disputar as próximas eleições estava quase completa: Serra, o secretário de Desenvolvimento e ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos (DEM). Respectivamente, pré-candidatos a presidente, a governador e vice-governador. Aliás, há muito tempo eu não os via juntos, um do lado do outro. Foi inevitável não pensar assim.

Agora, explico os motivos. Em relação ao Serra, não preciso apresentar muitos motivos pois ele já assumiu como governador com esse interesse de disputar para comandar o outro Palácio, o do Planalto. No caso de Alckmin, as pesquisas internas feitas a pedido do PSDB apontam o ex-governador como favorito a voltar a comando do Palácio dos Bandeirantes. Além disso, o partido não vai se arriscar a perder o comando do estado mais importante da Federação, tanto no contexto político quanto econômico.

Já Afif deve mesmo sair como vice eventualmente como Alckmin porque precisou abrir mão da candidatura a senador em favor do também ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Nesse caso, o motivo foi o acordo articulado por Serra e fechado em 2008 para garantir apoio do PMDB em favor do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).

Desta forma, sobrou para Afif a vaga de candidato a vice. Por enquanto, tudo está desenhado assim. Mas como a política também é uma caixinha de surpresas, tudo pode mudar.

De volta ao evento, o jeito foi também ficar atento a esse ambiente todo. Na plateia, muitas autoridades, deputados aliados e a gente de olho em tudo. Apesar de ficar no foco das vagas dos cursos que é assunto da minha editoria, de economia, também me transformei num esporádico repórter de política (na minha opinião, minha segunda área de atuação).

Na entrevista coletiva com o governador, perguntei sobre os cursos, obviamente. Em seguida, uma outra repórter questionou quando Serra assumiria a condição de pré-candidato. Como acontece até agora, ele desconversou. Foi a minha hora de testar se conseguiria atuar nas eleições, ao abordá-lo sobre o crescimento da pré-candidata e ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, nas pesquisas de opinião pública.

A última consulta feita pelo Ibope a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que a concorrente governista cresceu cinco pontos percentuais e estava com 30% das intenções. Serra contava com 35% na mesma análise. Então, o governador disse que não costuma comentar pesquisas, mesmo quando o resultado seja favorável. Depois, foi embora.

Já Afif confirmou que deixará a secretaria no início de abril para sair candidato, em entrevista depois da solenidade. Porém, não adiantou para qual cargo. Nos bastidores, é dada como certa a candidatura dele a vice-governador, dentro do acordo fechado. Alckmin nada falou no evento. Só faltou saber quem será o vice de Serra. Mas isso só ocorrerá nos próximos dias.

Entre essas e outras, percebi que o contexto todo do evento serviu para eu aquecer as turbinas, caso fique na cobertura das eleições. Além disso, deixou em mim a vontade ainda maior de atuar nessa corrida eleitoral. Afinal, a disputa promete muitas surpresas. O jeito é esperar para ver quais serão as cenas do próximo capítulo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Sensação de dever cumprido

Entrei mais cedo por ter sido escalado para cobrir, mais uma vez, a visita do ministro do Trabalho a São Paulo. Como manda o figurino, acompanhei todos os passos do evento que contou com a presença de Carlos Lupi. Era um anúncio importante, pois o governo federal mostrava o novo sistema de prorrogação do contrato temporário para mais seis meses, a ser usado pelas empresas. A meta desse mecanismo é reduzir o tempo de espera para apenas dois dias, contra os 45 hoje.

Então, o jeito foi assistir ao evento todo, afinal as autoridades só concedem a tradicional entrevista coletiva após o término dessas atividades. O ministro discursou ao público presente e os representantes das entidades que representam os empresários e empregados também fizeram o mesmo. Sempre é assim.

Fora o assunto do evento, eu tinha outros tópicos para abordar com Lupi. Trata-se da luta para conseguir uma boa reportagem e ir mais além do que era abordado naquele ambiente, um almoço organizado no Circolo Italiano, na capital paulista. Porém, não precisei fazer muito esforço por um único e simples motivo. Uma reportagem feita por mim um dia antes repercutiu junto ao ministro.

Isso mesmo. Minutos antes da entrevista coletiva, um grupo de motoboys foi cobrar a liberação do financiamento especial destinado à categoria. A linha de crédito especial criada para o setor não tinha saído do papel devido a um impasse na Caixa Econômica Federal, responsável pela operação desse sistema. O banco tem dificuldades de encontrar uma empresa disposta a fazer o seguro das motocicletas vendidas, sob alegação dessa profissão ser de alto risco.

Pois bem, todo esse imbróglio foi relatada numa matéria que fiz. Os diretores do Sindicato dos Motoboys entregaram o jornal com a minha reportagem diretamente ao ministro. Ou seja, tinha mais um assunto para perguntar a Lupi, que abriu a página e leu o texto. Desta forma, meu objetivo de o fato repercutir amplamente foi alcançado.

Assim, me restou perguntar a Lupi que ele poderia fazer para resolver o caso. Questionado, prometeu cobrar agilidade junto à Caixa Econômica Federal para resolver o problema. Além disso, revelou a existência de uma negociação para criar um fundo especial, responsável por captar recursos como forma de garantir o seguro das motocicletas compradas por meio desse crédito.

Ainda no meio da entrevista, o ministro me perguntou: "Essa reportagem é sua?" Imediatamente, respondi positivamente. Em seguida, Lupi ressaltou que faria uma leitura mais minuciosa dentro do avião. Só não sei se ele realmente fez isso ou apenas se tratava daquela tradicional média. Jamais saberei a resposta.

Mesmo assim, eu fiquei contente com a reação dele e a forma que a minha reportagem chamou a atenção no segmento e no governo. Presenciei pessoalmente a meta principal dos profissionais da minha área, a de repercutir uma descoberta junto à sociedade e às autoridades. A minha sensação foi de pleno dever cumprido.

Afinal, isso permanece no bom e velho manual de jornalismo. Mostrar um problema, relatar todos os seus passos e, se possível, contar o resultado das nossas constantes cobranças. Pelo menos, ainda continuo no aspecto verdade, sem criar ou ser totalmente sensacionalista.

Depois de 16 anos de caminhada nesse ramo, às vezes, ainda sinto orgulho quando faço um trabalho bem feito. Ainda acho que seguir os meus princípios é o meu melhor caminho, mesmo nos momentos de sensação de nadar contra a maré. É sinal de não deixar me influenciar e manter o meu caráter dentro dessa profissão. Ainda bem.

terça-feira, 2 de março de 2010

Uma emocionada despedida

Mudanças num determinado veículo de comunicação sempre trazem aquela tradicional movimentação de profissionais. E, obviamente, isso acontece hoje no Diário de São Paulo, onde um novo proprietário assumiu desde dezembro passado. Alguns chegam para melhorar a qualidade do conteúdo. Outros vão embora ou por não terem se adaptado às modificações ou porque encontraram novas oportunidades. Afinal, sempre será desta forma.

E isso aconteceu mais recentemente com três profissionais da casa: Isabela Barros, Aiuri Rebello e Plínio Delphino. Os três partiram para novos horizontes, numa agência de notícias, numa viagem à Europa e no SBT, respectivamente. Esse é o caminho natural da nossa profissão.

Sem querer desmerecer os demais, um deles com certeza representa parte da história mais recente do matutino, desde os tempos do velho Diário Popular. Ele se chama Plínio Delphino. Esse excelente repórter policial passou treze anos de sua vida na redação, desde os tempos de um simples estagiário.

Foi justamente nessa época que o conheci, em 1996, quando o mesmo me telefonava para ajudá-lo na apuração das constantes rebeliões na Cadeia Pública de Mogi das Cruzes. Naquele tempo, também dava meus primeiros passos na minha região, na Rádio Metropolitana.

Como a internet e o celular ainda eram artigos de luxo, o jeito era se virar por meio de contatos telefônicos. O Plinião, como também é conhecido, me ligava no orelhão próximo à cadeia e vice-versa. No último caso, fazia isso até por meio do então recente cartão telefônico.

O tempo passou e onze anos mais tarde o encontrei na própria redação do Diário de São Paulo. Por três anos, convivi com esse grande e respeitado profissional. Sinto-me honrado em colaborar, mesmo que timidamente, com a sua trajetória quando ainda cobria um pouco os fatos policiais.

Mas o que me chamou a atenção na sua despedida foi a carta deixada aos demais companheiros da redação, via e-mail. É muito difícil não se emocionar (eu me emocionei a ponto da voz ficar embargada). Quem se diz jornalista com certeza deve ter se solidarizado com o conteúdo. Já a pessoa que ainda não leu, vale a pena desfrutar desse emaranhado de palavras de gratidão.

Por esse motivo, decidi publicar na íntegra a carta deixada pelo Plinião como a minha simples homenagem a quem se dedicou de coração e já tem um capítulo na história desse centenário matutino. Coloquei isso com autorização do seu autor, claro.

Aiuri e Isabela, da próxima vez prometo voltar com uma postagem mais equilibrada com esse trio que deixou o jornal. Com todo o perdão, mas não tinha como deixar essa carta do Plinião passar em branco:

"Outubro de 96. Lá estava eu, diante do prédio do DIÁRIO POPULAR, como uma criança olhando para o pai, de baixo pra cima. Olhar de quem está curioso, de quem precisa de espelho para aprender e seguir a vida adulta. Na portaria me mandaram para as alturas. O quinto andar. A famosa redação do Dipo. E pra chegar lá, sempre havia um ascensorista cheio de história ou de manias no nosso caminho. Seo Paulo barrava até diretor se o elevador estivesse cheio. O São-Paulino, que colava o rosto na parede, lustrava o painel do aparelho a cada segundo e nunca terminava um assunto, porque o andar chegava antes do epílogo. O Daniel da madrugada, trabalhava com um guarda-chuva gigante à mão. Personagens únicos de um lugar ímpar.

Motoristas crentes, malucos, parceiros, corretos, nem tanto, pulsavam nas ruas com a gente até na contramão. Fotógrafos queriam engolir o mundo em imagens. E a gente enchendo a página de histórias pra lá de saborosas, inéditas, sensacionais. Telefones latejantes irritavam a redação o dia inteiro. Era nervoso, contagiante. Cresci aqui, nessa aura romântica, sem internet ou celular, em tempo que o bloquinho era prova irrefutável de que teu trabalho foi árduo. A gráfica ficava no prédio da redação. À noite, a gente saía e o jornal já estava sendo encartado na rua movimentada. Uma fila de Kombi aguardava para levar ao leitor a edição, em preto e branco, que sujava a roupa, as mãos, mas valia cada centavo do leitor.

O DIPO envelheceu e então chegou o DIÁRIO DE S.PAULO. Novos chefes, novos rumos, grandes novos amigos. Amadureci. Mudei. E vivi a minha melhor fase profissional com a mudança. O que eu aprendi com os antigos era forte, era a grande base. Mas, os meninos novos me trouxeram o olhar moderno, irreversível da realidade virtual. Não importa a forma e a época. Percebi que essa "casa" sempre funcionou como uma grande família. Aqui, quase sempre, as reprimendas vêm do coração, para que o erro sirva de lição. Aqui, os colegas sempre vibraram pelo teu sucesso e o ego nunca foi tão grande quanto o trabalho bem feito. É o que eu vi. Ou pelo menos o que eu precisava ver. Queria poder voltar muitos anos e abraçar um por um e agradecer por fazer parte da minha vida - afinal de contas, passei 1/3 dela dentro dessa grande engrenagem.

Agora, 13 anos depois, o Plínio do DIÁRIO, adolescente, quer se rebelar um pouco. Vou fugir de casa. Mas, deixei meus pais avisados. O DIÁRIO foi o "chão que me consagrou". "Foi meu herói e meu bandido". E é por isso que deixo esse lugar cheio de saudade. Mas, com a alegria de ver pessoas de caráter, de fibra, generosas, amigos gigantes, parceiros de verdade, honrando toda essa história. Me sinto orgulhoso de ter feito parte de tantos times maravilhosos que se formaram aqui. Preciso ir, mas, não me peçam para fechar a porta! Valeu demais...

26/02/2010
Plínio Delphino"