sexta-feira, 2 de abril de 2010

Até mais, tio Cleycir

Poxa tio Cleycir, justo quando eu tinha uma festa para ir e em meio a um feriado prolongado? Até pensei ser uma brincadeira bem típica dele durante o 1º de abril, data em que se comemora o Dia da Mentira. Mas infelizmente era pura verdade. Por causa da ocasião, demorei para acreditar. Apesar de ser difícil pela ocasião, preferi adotar esse clima descontraído típico da sua pessoa para contar algo triste. Ele deixou o nosso mundo na última quinta-feira (01-04), depois de uma luta de dois anos contra um câncer.

Parece piada, mas o tio Cley resolveu partir bem nessa data. Talvez queria pregar uma peça para toda família dar risada. Brincadeira de mal gosto, hein! Não achei graça. Mesmo triste, procuro manter a irreverência contida nele deixada em todos nós como um legado para deixar uma simples homenagem. Essa é forma que mais consigo me expressar.

Após receber a notícia pela minha mãe enquanto comemorava a folga no feriado com amigos, aquele tradicional filme com as tradicionais recordações voltou a rodar na minha cabeça. E passou muito enquanto voltava de São Paulo para Suzano. Como não se lembrar das traquinagens que ele fazia desde a minha infância? A convivência era muito próxima, nos aniversários e encontros familiares naquelas datas típicas, como Páscoa, Dia das Mães e Natal.

Afinal, ele era um dos tios que me virava de cabeça para baixo quando criança. Além disso, tirava o maior barato quando chorava devido a uma bronca ou coisa parecida. Ele e o irmão dele, o tio Ignácio, chegavam ao ponto de tirar fotos minhas bem na hora dessas lágrimas. Trinta anos depois, agora eu definitivamente acho engraçado. Assim, vou manter parte dessas ações com a minha sobrinha, a Rafaela.

O tio Cley me deu minha primeira calculadora ainda pequeno, da então conhecida marca Dismac. Era um pedido meu influenciado pelas propagandas de TV daquela época. Depois de adulto, eu cheguei até a pensar numa possibilidade. Seria um sinal de que me tornaria mais tarde um jornalista na área de economia? Talvez, a resposta seja sim.

Por outro lado, foi por influência dele que passei a ouvir rock n' roll quando ia ao apartamento dele, no andar de baixo onde minha avó morava e passava grande parte do dia. Pelo menos, absorvi isso e continuo a curtir até hoje esse eterno ritmo.

Já na fase adulta, também compartilhava a arte de beber uma boa cachaça brasileira. Devido a esse fato, eu combato veementemente o preconceito contra essa bebida genuinamente nacional. Boa parte da minha coleção de aguardentes veio por meio de presente que ele me deu.

Como também levava garrafões adquiridos diretamente dos alambiques do interior do estado, de vez em quando ele retribuia a gentileza. E agora, com quem vou comentar se uma determinada marca é boa ou não?

Mesmo assim, acredito na possibilidade desse tio estar numa condição bem melhor agora porque não é fácil para ninguém lutar contra um câncer por muito tempo. Pois sei que essa doença maldita consome uma pessoa de tal forma, a ponto de ter perdido um outro tio e alguns amigos por conta desse mal. Apesar de já esperado, a tristeza foi inevitável dentro da família.

Bom, por essas e outras eu prefiro ficar com os bons tempos em vez de relembrar esses últimos dois anos de dificuldades para enfrentar a doença. Não garanto nada que ele tenha escolhido para morrer bem no dia 1º de abril como uma maneira de tornar a situação engraçada.

Só pode ser isso. Enquanto o povo aqui na Terra chorava, é bem provável que ele tenha dado muita risada da cara de todos nós lá de cima. Bom, o jeito é manter o sorriso e dizer até mais tio Cleycir.

4 comentários:

Unknown disse...

Que homenangem bonita primo, muito obrigada. E também acho que ele deve ter tirado uma com a nossa cara, escolheu bem o 1º de abril pra ir embora.

Unknown disse...

querido, se eu tivesse que escrever algo sobre o tio cley, seria como voce o fez.
perfeito! lindo! emocionante e tambem engraçado. quero crer que ele tambem possa ler, se puder estara muito feliz, emocionado mesmo. e diria:
esse meu sobrinho é foda!


ti amo pra toda vida, e depois tambem.
tia nice

Anônimo disse...

Querido, hoje pela manhã entrei aqui, mas não chamei o Tio Ig para ler,para não emociona-lo ( de manhã ele estava meio acabadinho), só estou escrevendo agora a noite pq eu também tava acabadinha, ( mais que o normal kkkk).
Muito lindinho tudo que você escreveu tenho certeza que tio Cley, nosso amadinho também gostou.
Lá de cima ele deve tá falando assim:- "EU SOU FODA MESMO".
tia kel( sou bem burrinha, só conssegui postar como anonimakkkkk, as outras opções, sei lá pq, não entrava( Não no sentido biblíco)

Lívia Haddad disse...

Se eu te falar que seu texto me lembrou, em alguns trechos, muito de mim, vc acredita? Incrível, mas me emocionou e me fez dar risada ao mesmo tempo, relembrando e sentindo saudades...